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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UM ANO SEM VOCÊ


Um ano do seu atropelamento.
Para mim, não importa que seu coração tenha parado de bater na manhã do dia seguinte.
Na minha concepção, você morreu em 28 de fevereiro de 2011, as 17:05h, no exato momento em foi jogada ao chão e perdeu, para sempre, a consciência.
Naquele dia, deixei o almoço pronto como em todos os outros dias e fui trabalhar.
Você disse que não ia comer, porque nós duas iríamos ao Mc Donald's depois de comprarmos seu tênis.
Não adianta tentar fazer com que seja diferente, pois todos os dias, desde aquele dia, me lembro de cada minuto, de cada sensação, de cada tudo!
Liguei pra você as 17:00h perguntando se já estava pronta pra sair de casa e me encontrar no centro.
Você, toda animada, disse que sim e que já estava saindo de casa.
Nos despedimos com nosso famoso "beijo-tchau", o mesmo bordão que eu usava pra te interromper ao telefone quando você me irritava.
Desliguei o telefone e toquei no ramal do Décio.
O Décio trabalhava comigo e te achava linda.
Toquei no ramal dele e contei que você estava indo ao meu encontro, e que se ele fizesse alguma graça contigo, ia apanhar de mim...
Enfim, desliguei o telefone e foi nessa hora que notei que estava chovendo.
Me preocupei em te ligar de novo pra saber se você tinha pego um guarda chuva.
Foi nesse momento que minha paz acabou...
Seu celular tocou e foi seu irmão quem o atendeu:

-Mãe?

-Oi Ni, chama a Tata.

-Mãe, mãe, a Tata sofreu um acidente.

-Cala a boca, Nicollas, chama sua irmã logo!

-Mãe, calma, é sério. Ela foi atropelada! Fala aqui com o Filão...

Foi quando o Filão me disse que voce estava desacordada, que o resgate já estava a caminho e que um carro havia invadido o ponto de ônibus.
Eu, do outro lado, mandava que ele ficasse falando com você mesmo que você não respondesse.
Mandei te dizer que eu já estava sabendo.
Pedi pra falar com o Nícollas de novo e pedi que fosse pra casa ficar com a Ivy.
Avisei seu pai, que estava dentro de um ônibus a caminho de casa.
Ele chegou a tempo de acompanhar seu resgate.
A essa altura, eu já estava no Hospital Regional esperando sua chegada, mas isso demorou horrores!
Só mais tarde entendi o porquê.
O SAMU chegou pra te socorrer com uma ambulância comum, mas precisaram chamar uma UTI móvel pra fazer sua remoção, devido à gravidade do seu estado...
Lá no hospital, tive uma pequena hemorragia devido ao nervosismo.
Me lembro das palavras do Nícollas mais tarde ao telefone:

- Mãe, só me liga se for pra dar notícia boa. Se não for, nem me ligue...

Aquilo me partiu o coração...
Depois de falarmos com o médico, de sermos informados sobre a cirurgia e das suas reais possibilidades, fui assinar os papéis da sua internação quando dei de cara com o Fer na recepção do hospital.
Ele estava lá, mas ninguém sabia.
Simplesmente ele foi até lá assim que soube, chorava sem parar e nos fez companhia a noite toda.
Eu, seu pai, o Filão, o Fer e o meu Martinho amado... Não sei se teria conseguido passar por aquela noite sem ele ao meu lado.
Um policial nos procurou lá no hospital. O mesmo policial que havia estado aqui na nossa rua acompanhando a ocorrência.
Ele foi conversar comigo bem na hora em que o médico nos deixou entrar na UTI.
Ele falava sobre o atropelador e os procedimentos a serem seguidos.
Eu só olhava pra ele e pra você, sem acreditar naquilo que estava acontecendo, e dizia que se você não saísse dali andando e falando, que eu mesma mataria o filho da puta.
Falei isso incontáveis vezes pra esse policial, que em momento algum tentou me demover da idéia.
Ele se limitou a te olhar, colocar uma das mãos no meu ombro e dizer:

-É foda!

Não há explicação pra esse sentimento de perda, bem como não existe descrição para a dor que sinto.
O tal do 'tempo' restaurou um pouco a dor da Ivy. Ela não tem mais aqueles momentos de choro desesperado.
Eu não alimento a dor dela.
Pra ela, falo coisas que não acredito, mas que sei que, à ela, consola: "a Tata virou anjinho", "a Tata cuida da gente lá do céu"...
Enfim... Todo aquele bla-bla-bla que se diz às crianças numa hora dessas.
Hora, essa, em que não há o que se dizer...
O tempo mantém, ainda, a dor do Nícollas guardada com ele. Ele deve sofrer demais, mas não externa isso e eu repeito. Sei que haverá hora pra esse peito chorar.
Seu pai tem sido parceiro, e sei que ele sufoca muito mais que a dor que sente, só pra poder me ajudar de alguma forma.
E eu, minha vida, cada dia que passa estou pior.
Se existe um jeito de viver bem sem você, ainda não descobri qual é...
Eu te amo tanto e tão desesperadamente que falo seu nome sem você estar aqui.
Estou sem você há 365 dias.
Dias que passei, ininterruptamente, pensando em você.
E pra sempre terás o meu amor, o meu coração e as minhas promessas cumpridas.
Todas elas.
Te amo, minha flor... Teria morrido em seu lugar se pudesse ter escolhido...
Você, e só você, tem a certeza disso.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SUA ÚLTIMA NOITE CONSCIENTE




Há exatamente um ano, eu ainda tinha você.
Dia 27 de fevereiro de 2011: foi o último domingo em que ficamos o dia todo juntas vendo televisão.
Foi o último em que te beijei e abracei estando você consciente disso.
Foi o dia em que mandei você pintar as unhas porque estavam horríveis e descascadas.
Foi o último dia em que você me perguntou: 'Mãe, o que tem pra comer?'
Este, foi o último dia em que vi meus três amores juntos.
O último dia em que a Ivy deitou contigo no sofá.
Foi o último dia em que o Nícollas teve uma melhor amiga.
Dia 27 de fevereiro de 2011 foi a véspera do resto da minha vida. Da minha vida sem você.
Tem sido muito dolorido...
O 'hoje' está sempre pior que o 'ontem', e eu não to conseguindo administrar.
Esta semana, depois de passar um ano inteiro sem trabalhar, tentei retornar.
Um emprego de meio período, mas só consegui ir por dois dias.
Não estou confortável em sair de casa, parece que meu peito vai explodir.
Aí, tenho taquicardia, minha pressão aumenta, choro... Não tá dando não!
Não sou tão forte quanto as pessoas pensam, nem tão corajosa como eu mesma considerava.
Sou, agora, um monte de dor e saudade que precisa levantar da cama, onde rolou a noite toda de um lado a outro, para cuidar dos seus irmãos.
Tem dia, filha, que não dá vontade não...
Pra ser bem sincera, nenhum dia dá vontade!
Liguei no fórum pra saber o andamento do seu processo, mas isso não merece nem comentários.
O negócio nesse país funciona assim: se você quiser acertar contas com alguém, jamais dê um tiro nessa pessoa. Simplesmente a atropele!
Aqui, não importa em quais condições esteja um motorista (sóbrio, bêbado, inabilitado, correndo ou mal intencionado), ele nunca será punido.
Hoje, quando for me deitar, vou sofrer pelo último beijo que te dei. Sofrer pelo beijo que nunca mais darei.
Você estava gripada em 27 de fevereiro de 2011, e eu te coloquei na cama assim:

"Boa noite, delicinha. Se precisar de alguma coisa, me chame. Como não vou acordar mesmo, pode chamar seu pai, porque ele sim tem sono leve..."

E nos beijamos, nos abraçamos e nos despedimos.
Nos despedimos sem saber que seria a última vez...



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

NOSSA ÚLTIMA BRIGA


18 de fevereiro de 2011: a data da nossa última briga.
Não só a última mas, também, a pior delas...
Me lembro como se fosse hoje!
Como se você tivesse vontade de me contar algo e te faltasse coragem, escreveu, num caderno, páginas e mais páginas sobre uma coisa da qual não quero me aprofundar aqui.
Não sei se de caso pensado, ou se por obra de um descuido, deixou o caderno em cima da minha cama antes de sair de casa.
Se o caderno estivesse entre suas coisas, jamais leria o que havia escrito ali.
Mas não estava!
Você não estava bem naquele dia, estava estranha. Ficou escrevendo por horas sentada em minha cama...
Quando terminou, saiu pra encontrar suas amigas e o caderno acabou ficando ali, em cima do meu travesseiro.
Não me passou pela cabeça ler o que você escreveu, tanto que peguei o caderno na mão, coloquei em outro lugar, depois o peguei novamente para colocar no seu quarto.
Foi quando um 'estalinho' aconteceu e decidi fazer aquilo que nunca havia feito: ler algo escrito por você sem o seu consentimento.
Me surpreendi negativamente em cada palavra que li.
Te odiei a cada linha.
Como você pôde ser tão estúpida?
Nessa época, andei tendo uns picos hipertensivos e você estava preocupada comigo.
Assim que terminei de ler tudo, te liguei imediatamente mandando voltar pra casa.
Só mandei voltar pra casa sozinha e desliguei o telefone sem maiores explicações.
Sabendo que eu havia passado parte da tarde em observação no pronto socorro, você voltaria sem demora.
Preocupada, me ligou 9 vezes em seguida.
Não atendi... Queria falar olhando na sua cara, não pelo telefone...
Quando você chegou, desesperada, achando que eu estava passando mal, me encontrou sentada aos pés da minha cama, com seu caderno nas mãos e ofegante como um bicho bravo.
A conversa que se seguiu foi uma conversa que jamais sonhei ter com você. Não com você!
Entre tantas coisas ditas e tantas lágrimas que choramos, disse que, naquele dia, naquele minuto, havia escorrido pelo ralo toda a confiança cega que eu tinha em você.
Foi bem tenso...
Dia seguinte já te amava de novo...rs
Nossas brigas nunca viraram a meia noite, nunca dormimos sem nos beijar, sem nos abraçar... Nunca!
No dia seguinte fomos ao oftalmologista, descobrimos que você estava míope e rimos da situação.
Você dizia que, há tempos, não enxergava tão bem como no momento do exame de vista quando a médica ajustou o grau das lentes!
Nós duas, na sala de espera da policlínica, irritando a Ivy até ela chorar porque nenhuma de nós a pegava no colo e não havia lugar pra ela sentar! Como ficou brava!
O calor daquele dia...
O pastel de queijo da Pastelândia do Extra...
A caminhada que fizemos até lá, mortinhas de fome!
E em cada carro que passava ao nosso lado na rua, tinha um engraçadinho que mexia com você.
Eu, claro, dizia que eles também eram míopes, porque a linda da história era eu...
Como a gente ria!
E quando, em algum lugar, alguém te ouvia me chamar de mãe, era sempre um espanto seguido de uma mesma conversa, gravada na ponta da minha língua:

- Vocês são mãe e filha?

- Ahãmmmm...

- Nossa, não parece... Parecem irmãs, você é tão nova!

- Eu sei, mas a mãe não sou eu. É ela!


E acho que, no fundo, é assim que me sinto.
Órfã.
Completa e absolutamente órfã de você.

Eu te amo!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

QUERO LEIS QUE SEJAM JUSTAS E CUMPRIDAS




OUTRAS VÍTIMAS: Fabiane e Leonardo

Fabiane (14), Bianca (15), Leonardo (8), Juliane (18) e Allan (19).
Exceto a Juliane, que morava em Manaus, todos os outros moravam em Sorocaba.
Todos, inclusive Juliane, foram vítimas de atropelamento.
Todos mortos.
Alguns amigos da Bianca eram, também, amigos do Allan.
Estes, em menos de um ano, choraram duas perdas.
Não conheço os pormenores de cada caso, mas sei que o único assassino detido até o momento foi o de Fabiane e Leonardo, pois parece que o sujeito já estava sendo procurado por outro crime.
Enfim, a impunidade impera.
As coisas não acontecem.
Os processos não andam.
Às mães, só resta aguardar pela justiça.
Justiça com as próprias mãos? Não, isso não se faz...
Acho que se eu pegasse o carro e passasse em cima do assassino da Bianca, seria eu condenada antes mesmo dele ser intimado para esclarecimentos sobre o caso da minha filha.
Vivemos num país de 'justiça injusta', de inversão de valores, de prioridades questionáveis.
Vivemos num país que condena à prisão quem rouba um pote de manteiga no supermercado, mas que agracia com a liberdade aquele que dirige em alta velocidade, atropela e mata um outro ser humano.
Posso cruzar com o assassino da minha filha pela cidade a qualquer momento.
A mãe do Allan, da Juliane e dos demais, também.
Sabe o que os atropeladores sentirão, caso nos reconheçam?
Apenas um desconforto por receio de que façamos um escândalo em lugar público.
E só.
Eles sabem que nada vai acontecer a eles, que a justiça é burra e que o Brasil é o país da bandidagem.
É o Brasil, dia após dia, gargalhando na cara da gente!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

FEVEREIRO




Ah Bi...
Amanhã começam as aulas.
Seria seu último ano no ensino médio...
Já estamos em fevereiro, e esse será um mes em que minha revolta se fará mais que presente.
Vou ver se consigo ir ao fórum essa semana. Preciso saber o andamento do processo.
Hoje sonhei com você.
Aliás, tenho sonhado bastante com você.
São sonhos confusos, onde você aparece rindo muito e dizendo que não morreu, mas que apenas fingiu e me enganou!
Sonhei duas vezes com teu assassino também, mas dele não quero falar.
No sonho de hoje, você estava gigante. Fisicamente gigante!
Acho que tinha mais de dois metros de altura!
Você ria muito e eu te perguntava como é que você havia crescido tanto enquanto esteve longe de mim...
Estava tão linda!
Eu acho tudo inaceitável.
A Fernandinha, antes de viajar de avião, me perguntou onde é que você dormia agora.
Disse a ela que você dormia numa nuvem bem fofinha, e ela te procurou quando estava 'pertinho do céu'.
Engraçado isso... Ela é tão pequena e não te esqueceu!
Fala de você com a consciência de que você não mais está aqui, mas com um carinho de quem te viu pela última vez há apenas alguns minutos.


"Que eu passe por mais esse mes sem ficar maluca, se é que o estado em que me encontro já não é de extrema maluquice..."