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sexta-feira, 29 de julho de 2011

SEU PAI


Segunda-feira passada, voltei de uma ‘estadia’ de 10 dias em Sorocaba.
Como seus irmãos estão de férias, achei justo que o Nícollas passasse uns dias perto dos amigos e que seu pai ficasse mais perto dele e da Ivy, que resiste a ficar em Sorocaba sem mim.
Eu sei que certas coisas não devem mais ser ditas mas, pra mim, é tão difícil apagar algumas lembranças...
O entendimento que você teve sobre nossa separação não foi o mesmo que ele teve, e por isso as coisas se tornaram tão desgastantes entre todos nós!
Conseguimos, nesses dias em que estive lá, manter a civilidade em nome da felicidade da Ivy.
A levamos ao shopping, Mc Donald’s, cinema... Ela ficou realmente feliz!
Conversamos muito sobre você e, por momentos, não mais existia hostilidade entre nós.
E é assim que deve ser.
É assim que deve ser por você, por seus irmãos e por nós mesmos.
Seu pai fez uma tatuagem.
Tatuou no braço uma cartinha que você fez há tempos pra ele.
Um duplo gesto de amor: seu por ele ao fazer a cartinha e, depois, dele por você ao fazer a tatuagem.
Sei que um lado dessa paz tão necessária entre nós vai depender da minha capacidade de perdoar.
Sei também que, um outro lado, vai depender dele em relevar algumas coisas.
Se conseguirmos esse equilíbrio, mantendo em foco principal a felicidade dos seus irmãos, certamente vamos conseguir evitar que mágoas sejam revividas.
Filha, você me conhece melhor que qualquer outra pessoa.
Você, e só você, sabe quão leoa sou eu.
Por isso, te digo que vou tentar, dia após dia, deixar as lembranças ruins de lado e procurar fazer um futuro diferente.
Fazer um futuro onde seja possível unir meu amor por seus irmãos ao amor que seu pai sente por eles e, parceiros, ainda que separados, ampará-los pelo resto de suas vidas...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

MÃES E FILHAS


Muita gente lê o que escrevo aqui.
Recebo emails de mães que não conseguem se relacionar com seus filhos, que não conseguem uma aproximação mínima com eles.
Recebo também emails de adolescentes que declaram uma admiração por mim pelas coisas que escrevo sobre a Bianca e sobre minha relação com ela.
Algumas meninas dizem que o sonho delas é ter uma mãe como eu...
Não exagero quando escrevo sobre a Bianca, minha relação com ela não se transformou milagrosamente numa relação brilhante e cheia de glamour só porque ela morreu.
Nós sempre fomos ‘grudadinhas e grudentinhas’, mas éramos, sobretudo, mãe e filha.
O que isso significa?
Mães e filhas brigam, discutem, se ofendem, discordam, ficam de mal...
Mães e filhas compartilham, muitas vezes com má vontade, pentes, maquiagens, roupas, bijuterias e sapatos...
Mães e filhas gritam umas com as outras e, vez ou outra, passam o dia sem se falar!
Minha relação com a Bianca era perfeita sim, principalmente porque incluía tudo isso aí que escrevi.
Dez dias antes dela falecer, tivemos uma briga fenomenal!
Eu a acordei gritando, no volume máximo que minha voz foi capaz de alcançar, porque sua gata havia feito coco no chão da minha cozinha.
Ela levantou da cama, desceu as escadas ‘pisando duro’ e berrando igualmente comigo.
Gritava que eu era louca, que não precisava fazer aquele escândalo todo só por causa do que a gata havia feito.
Dane-se.
Gatos não devem fazer coco na cozinha. Fato!
Ficamos o dia todo sem conversar, e ela passou a tarde escrevendo num caderno, que deixou sobre a minha cama propositalmente para que eu lesse.
E li.
Já revirei minha casa procurando esse desabafo pra postar aqui pra vocês.
Encontrei o caderno, porém, as páginas já haviam sido arrancadas.
Ela teve tempo de jogar fora as coisas que havia escrito sobre nossa briga, pois em meio ao desabafo que fez sobre mim, admitiu algumas coisas sobre ela mesma que certamente se arrependeu.
Mas isso não vem ao caso agora.
Sempre ensinei aos meus que não devemos dormir brigados, sem desejar boa noite e sem um beijo apertado.
Sempre falei que não saíssem de casa sem se despedir dos que ficavam, a gente nunca sabe o que pode acontecer.
Por essa razão, no dia da briga, depois de muita discussão e choradeira, nos abraçamos e nos beijamos selando aquele dia irritante com um delicioso “eu te amo”.
Não tenho nenhum manual que ensine o bom relacionamento entre mães e filhas, nem sei se existe uma regra pra isso.
As pessoas são tão diferentes!
O que funciona para um, nem sempre vai funcionar para o outro.
Acho que, entre mim e a Bianca, existia uma liga de cumplicidade gigantesca.
Havia, em torno de nós, uma aura de amor sem fim.
Não exagero quando digo que não deixamos nada pendente em nossa relação.
Brigávamos como cão e gato, mas nos entendíamos como duas amigas.
Se existe algum segredo que possa garantir o sucesso entre mães e filhas, esse segredo se chama amor.
Amor incondicional.
Amor eterno...


gabihort@gmail.com

FAZER O BEM SEM OLHAR À QUEM


Naquela noite, enquanto você estava na UTI, permaneci numa sala de espera com seu pai e o Martinho.
Aquele pouquinho de entendimento que o curso de enfermagem me havia dado, fez com que eu passasse aquela noite amadurecendo a idéia sobre doação de órgãos.
Lembro que falei sobre isso com o Martinho.
Eu dizia que tinha a sensação de que, a qualquer tempo, alguém viria falar comigo sobre a doação de seus órgãos.
Eu, que de maneira ignorante, sempre me posicionei como uma não doadora, que dizia que enquanto o coração estivesse batendo havia vida, e que se eu ficasse numa situação de coma que me deixassem vegetar eternamente, estava agora considerando a possibilidade de salvar vidas em seu nome.
Quando falei sobre isso com o Martinho, bem baixinho pro seu pai não ouvir, ele pediu pra eu parar de falar bobagem, pois você estava se recuperando da cirurgia.
Parei de falar, mas não de pensar.
Sabia que, sobre este assunto, se alguém viesse falar conosco, seria dentro de 18 horas aproximadamente.
Não deu tempo.
Uma parada cardíaca impediu que as coisas chegassem a este ponto.
Fui pra casa ficar com seus irmãos, e seu pai ao IML por causa da autópsia.
A demora da liberação de seu corpo me afligia, queria que aquilo acabasse logo.
Não podia mais ficar imaginando o que estavam fazendo com você naquele lugar...
Foi quando seu pai me ligou perguntando se eu autorizava a doação de suas córneas.
Havíamos chegado ao ponto.
Minha primeira reação foi perguntar se esse procedimento seria demorado e, no mesmo momento, me dei conta de que isso já não tinha a menor importância:

- Pode doar.

Desliguei o telefone, fiquei em silêncio por um instante e fui tomada por uma salada de sentimentos contraditórios, onde nas frestas da tristeza e da dor, o orgulho e a esperança se fizeram presentes.
Eu realmente fiquei orgulhosa de mim por aquela decisão.
Tive a consciência imediata de que, através de você, através de ‘seus olhos’, uma ou duas pessoas poderiam passar a enxergar o mundo que você não mais podia ver.
Não tive aquela vaidade de pensar que um pedacinho seu continuaria vivo em outra pessoa, mas vi, com exatidão, a grandeza do verbo DOAR.
Sorocaba tem um dos maiores BANCO DE OLHOS do Brasil.
Torço para que as pessoas beneficiadas por esta doação sejam pessoas de bem, apenas isso.
Torço para que todas as pessoas que passem por uma situação como a que passamos, possam encontrar um pouquinho de serenidade para ponderar sobre doação de órgãos.
E que, ao final, possam optar pelo ‘SIM’, vivendo com o orgulho de saber que o bem fora feito, ainda que anonimamente e em favor de alguém igualmente anônimo.


CHEGANDO EM NOSSA CASA


Estranho entrar em casa sabendo que você não está.
Hoje é 15 de julho e estou em Sorocaba com seus irmãos.
Essa noite, nada dormi.
Não foi bem uma insônia, estava realmente cansada.
Embora sua ausência seja insuportável, não consegui dormir por causa de uma gripe extremamente forte que peguei.
Aí, acordada a noite toda, não tive como evitar o pensamento em você.
Não pensei com tristeza, pensei com saudade...
Minha cama, esta noite, estava superlotada: eu, Ivy, Morgana e Miúcha.
O Nícollas, embora estivesse dormindo sozinho na cama dele, colocou a cama bem coladinha à minha e dormimos todos bem juntos.
A Miúcha está linda, tranformou-se numa bela ‘gata bolota’, mas tem um pouco de medo de mim, afinal, não me vê com freqüência e, confiança de gato, não se conquista num estalar de dedos.
A Morgana achei estranha... Quieta, trocou o telhado da varanda pela cama do Nícollas durante o dia.
Talvez fosse só saudade de gente respirando pela casa.
Talvez tenha achado que você também estivesse conosco.
Agora, com a faxina terminada, vou cozinhar para seus irmãos.
Sentarei à cabeceira da mesa, como de costume, e terei um deles à minha direita em seu lugar.
A casa está em ordem agora, as toalhas de banho lavadas e os edredons deliciosamente perfumados e estendidos na cama.
Te amo!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

MÃE, COMO ELA ESTÁ AGORA?


- Mãe, como será que a Tata tá agora?

- Ah, Ivy, ela tá lá no céu. Virou anjinho.

- Não mãe. Quero saber como ela tá lá dentro do caixão!

Silêncio.
Ficamos ali por alguns segundos, sentadas na minha cama, olhando uma pra outra.
Dava pra ver que ela perguntara, mas se arrependera.
Creio que ela temeu profundamente a resposta que eu daria.
Não tive como fugir da pior sensação que tive no dia do velório.
Voltei ao instante em que fecharam seu caixão e ao momento exato do seu sepultamento.
Escrevo isso chorando...
Nunca tive a certeza da perda definitiva de algo ou alguém antes.
Repeti a mim mesma naquele dia, silenciosa e infinitamente, que estava diante de uma derrota.

“Perdi... Perdi... Não sei como, mas perdi!”

Não importaria quanto escândalo eu fosse capaz de fazer ali, quantos gritos de dor eu pudesse dar.
Você não voltaria.
Ainda olhando pra Ivy, como que aguardando sua desistência em ouvir uma resposta, respirei fundo e falei:

- Lembra que eu te falei que a Tata virou anjinho? Então... O que fica no caixão é só um corpinho que não se mexe mais e não sente dor. Com o tempo, tudo que tá lá dentro vira pozinho.

Continuou em silêncio e, depois, se enchendo de coragem, tornou a perguntar:

- Até o ursinho?

- Sim, até o ursinho! Mas ele é o último a virar pozinho, porque ele tá lá o tempo todo cuidando do corpinho da Tata. Não foi pra isso que o colocamos no caixão com ela?

Ela me olhou de maneira bem séria, os olhinhos marejados e aquela boca de quem tá segurando um choro.
Encaixei, nesse momento tenso, um toque de palhaçada pra descontrair um pouco.
Ela riu.
Era hora de dormir e, como de costume, desejamos boa noite a você...


(Esta foto foi tirada pela própria Bianca, com o celular, e só a encontramos depois do enterro. Ela estava exatamente assim no caixão, mas ao invés dos cabelos emoldurando seu rostinho, havia um lenço prateado em torno de sua cabeça... Loucura isso...)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

NOSSA ÚLTIMA CAMINHADA


Dia 25/02/11.
Três dias antes do seu atropelamento.
Saímos para uma caminhada noturna, aliás, beeeemmmm noturna.
Naquela semana você chorou muito, disse que estava gorda (onde?) e eu me ofereci pra te acompanhar em algumas caminhadas.
Ainda que não desse o resultado esperado, a gente ia dar muita risada como sempre.
Nesse dia, 25 de fevereiro, você chegou da escola as 23:15h.
Estávamos, nós duas, acabadas de gripe!
Mas palavra de mãe é palavra de mãe...
Estava trocada te esperando pra sair e você mal acreditou.
Comeu algo bem rapidinho e começou a me pedir roupas emprestadas porque não tinha nada pra ‘vestir e caminhar’.
Vestiu minha legging branca, minha blusinha rosa e calçou seu par de tênis que tanto odiava, mas que era perfeito para o que íamos fazer (sem contar que combinava 100% com a MINHA roupa que você estava usando).
Já era quase meia noite quando saímos de casa.
Não sei se andamos por lugares realmente feios ou se o avançado da hora e a falta de gente na rua faziam com que os lugares ficassem sombrios.
Passamos por uma pracinha mal cuidada e você disse que havia sido ali que encontrara a Miúcha (a última gata que levou pra nossa casa).
Na sequência, me perguntou se eu costumava ter sonhos repetidos.
Quando disse que não, começou a me contar, apontando pra um barranco dessa pracinha mal cuidada:

“Tá vendo esse barranco aí?
Então... Sempre tenho sonhos repetidos com esse lugar.
Sempre tem pessoas armadas atrás de mim e a Ivy está sempre comigo.
Os caras me pegam, começam a me bater, me jogam ali e eu fico chamando você.
Fico gritando por você, mas você não aparece.
Fico preocupada com a Ivy, com medo de fazerem alguma coisa com ela.”


Lembro que brinquei contigo dizendo que eu não aparecia porque estava trabalhando, e que você deveria chamar pelo seu pai que estava sempre em casa.
Você fez aquela cara de ‘saco cheio’, virou os olhos pra cima e disse que ele não te ouvia nem no mundo real, quanto mais em sonhos...
Como sempre, falei pra você não se preocupar, porque agora que eu estava sabendo desses sonhos, os ‘tais homens imaginários’ que se cuidassem, porque ninguém vence uma mãe em fúria!
Ainda mais a SUA mãe!
A gente riu muito disso... Você dizia que eu era foda... Que eu era a pior... Que eu era a melhor!
Sei que fui a melhor pra você, da mesma forma que você foi a melhor pra mim.
Me orgulho tanto de ter sido o seu amor maior...
Me orgulho tanto das coisas que você me falava...
Sei que você não era perfeita, e nem pretendo que este blog faça com que as pessoas pensem isso.
Ninguém é perfeito.
Você era deliciosamente dissimulada.
Eu, generosamente cega pra lhe permitir vivenciar as coisas erradas da vida.
Tola é a mãe que acredita ter sempre o controle.
Burra é a mãe imperativa.
Amei você por suas qualidades, por seus defeitos e por suas burrices.
Amei você por me ver em ti em cada fase da sua vida.


“- Bibiiiii, eu te amoooooo!

- Tá, mas eu amo mais.

- Não ama não. Eu que amo!

- Não, eu que amo...

- Que porra, Bi! A gente não pode amar igual?

- Tá boooooommmmm, vai...”

terça-feira, 5 de julho de 2011

O URSINHO



Ele entrou na nossa vida numa noite de natal.

"Papai Noel não existe mesmo, mãe?"

Pois é...
Sua descoberta fez com que você não conseguisse decidir sobre qual presente gostaria de ganhar, afinal, antes você pedia pro papai Noel, agora seria direto com a mamãe!
Que coisa difícil...
Você não conseguia decidir.
O natal estava chegando e eu ficando aflita, pois logo seria um imenso tormento encontrar qualquer coisa que fosse!
Propus um presente surpresa.
Você relutou, mas aceitou.
Arrumei uma caixa bem grande e comprei um monte de coisas que sabia que você adoraria ganhar.
Era aquela fase das agendas, coisinhas fofas de meninas...
Não me lembro de tudo que coloquei ali dentro, mas lembro que a caixa era a maior que tinha debaixo da árvore da tia Neusa.
Dentre as coisas que comprei, estava o nosso URSINHO.
Esse ursinho fez parte da vida da família desde então.
Todo mundo gostava de pega-lo, ele era macio e parecia ter vida própria!
Quando a Ivy nasceu, se fez dona dele.
Chegou a 'batizá-lo' de 'PIPOSO' (existia um ursinho de nome parecido), e fez dele sua companhia constante na hora de dormir.
Você dizia que era seu, ela tomava da sua mão dizendo que era dela.
Você ria...
Quando você faleceu, meu primeiro impulso após dar a notícia à ela, foi o de pegar o ursinho e pedir que ela o abraçasse pensando em você.
Ela o pegou e não mais largou até chegar no velório, onde pediu pra colocá-lo junto de você.
Eu não queria que ela o fizesse, pois sabia que seria uma lembrança tão importante mante-lo conosco.
Não conseguimos um acordo sobre isso, o ursinho se deitou contigo pelas mãos dela e está aí a te fazer companhia.
Encontrei fotos do nosso ursinho exibido, ele realmente estava em todas!











... e ali permaneceu, sobre seu corpinho sem vida, a velar seu soninho eterno...

domingo, 3 de julho de 2011

PARA A TATA, COM AMOR...


A Ivy acha o máximo eu ter feito um blog em sua homenagem, embora não saiba exatamente o que está sendo escrito aqui.
Outro dia, curiosa, pediu pra eu ler algo pra ela.
Achou engraçado eu escrever pra você, como se você pudesse entrar na internet e ler tudo isso a qualquer momento!
Desde então, é bastante comum ve-la quietinha desenhando e escrevendo cartinhas pra você.
Hesitante e inocente, me perguntou: 'Mãe, se eu morrer você faz um blog pra mim também?'.
Como é difícil administrar certas coisas...
Dia desses, veio até mim com um montinho de papel nas mãos pedindo que eu publicasse no blog.
São 'pequenos grandes' mimos que retratam a saudade que ela sente:




"Mãe, to com saudade do suco de manga da Tata"