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sábado, 2 de março de 2013

HORA DE DAR TCHAU



Quando comecei a escrever o blog, foi uma maneira que encontrei de externar minha dor, raiva, revolta, tristeza, saudade e, de certa forma, manter a Bianca viva na memória das pessoas.
Acabei dividindo todas as etapas do luto não só com pessoas conhecidas, mas, também, com pessoas que não faço idéia sobre quem sejam.
O blog teve acessos frequentes e fiéis dos Estados Unidos, Austrália, Alemanha, Japão, Suíça e Portugal.
Em alguns desses países, tenho conhecidos que residem. Em outros, não!
O blog foi encontrado por muitas pessoas totalmente por acaso (em alguma pesquisa no google) e acabou transformando essas pessoas em leitoras assíduas e comentaristas presentes.
Isso acabou me colocando em contato com outras mães que perderam seus filhos (por acidente ou por doença) e com alguns pais que se sensibilizavam com os textos e que me escreviam email's durante a madrugada, contando que estavam ao lado de seus filhotes pequenos que dormiam naquele momento, enquanto eles (pais) estavam em prantos tentando imaginar uma perda como a minha na vida deles.
O blog trouxe, também, muitos adolescentes pra minha vida.
Não só os amigos dos meus filhos, que acabaram ficando mais próximos de mim por conta do que aconteceu, mas também adolescentes que, assim como os pais que citei, também tinham alguma história pra contar e se sentiram à vontade para compartilhar comigo em razão de algo que postei e que, de certa forma, serviu a eles de alguma maneira.
Então, percebi que a coisa toda havia tomado uma proporção que nunca havia planejado.
A molecada queria ter uma mãe como eu e, os pais em luto, se espelhavam na minha aparente força para não enlouquecerem.
Percebi que cada palavra escrita aqui, já não era mais tratada simplesmente como um desabafo.
Cada palavra, cada frase, estava atingindo diretamente centenas de pessoas que me procuravam para dividir seus problemas.
Foi muito bom saber que algumas pessoas realmente entendiam meus desabafos de mãe que perdera a filha.
Foi enlouquecedor saber, de alguns filhos, a maneira rude que eram tratados por seus pais em casa.
Foi irritante, também, a tentativa de algumas poucas pessoas em me enfiar 'goela abaixo' todas aquelas historinhas sobre deus.
Cada retorno que recebi, cada pessoa que me escreveu se dizendo ajudada pelas minhas palavras, cada um daqueles que discutiram deus comigo, cada um que respeitou minha falta de fé, cada pessoa que se colocou em meu lugar sem me julgar, enfim, a todos que acompanharam o blog durante esses dois anos que se passaram desde que minha Bianca fora tirada de mim, só tenho que dizer muito obrigada.
Vocês não podem imaginar o bem que me fizeram...
Quando comecei a escrever, intimamente me perguntei: "Até quando?”.
Sabia que, um dia, as pessoas já não se importariam tanto e que meus textos cairiam numa redundância irritante.
Adoraria encerrar este 'capítulo' com palavras do tipo:

"E, então, o senhor Jair Juiz, atropelador irresponsável que matou minha filha em cima de uma calçada, fora condenado a alguns anos de cadeia".

Infelizmente, as coisas não são como gostaríamos que fossem.
Meu amor por ela é imenso e igualmente proporcional ao meu ódio por ele, e isso nunca vai mudar.
Nunca vou esquecer disso, entendeu, senhor Jair? Nunca.
Eventualmente, pode ser que eu ainda poste alguma coisa aqui.
Espero, breve, poder comemorar a meta atingida da campanha www.naofoiacidente.org e a diminuição drástica dos crimes de trânsito.
Sobre meu amor e revolta, nada mudou.
Não aceito e nunca vou aceitar o que aconteceu.
Acontece que, aquela dor real que faz o coração sangrar e a cabeça explodir, esta só mora em mim agora.
É preciso saber a hora de parar, e não há melhor hora para isso quando tudo ainda está belo...
Muito obrigada pelo carinho de todos!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

730 DIAS



Não tem como evitar o pensamento de como teria sido aquele dia se algumas coisas tivessem acontecido de maneira diferente.
O tão famoso 'e se...?' não nos leva à nada, eu sei.
Mas, pensar nisso, é praticamente inevitável!
Não que eu passe os dias me torturando com esse pensamento, mas penso nisso algumas vezes sim.
Penso como teria sido se, quando me separei do seu pai, sua vó tivesse me dado guarida na casa dela conforme pedi...
Se isso tivesse acontecido, você não estaria naquele ponto de ônibus naquele dia.
E se, naquele dia, meu pagamento tivesse sido creditado logo de manhã na conta ao invés de ter sido no final da tarde?
Certamente, teríamos ido às compras no meu horário de almoço.
Se tivesse sido assim, você não estaria naquele ponto de ônibus àquele horário.
E se eu tivesse dito pra você não me encontrar na saída do trabalho, pois deixaríamos as compras para o dia seguinte?
Você, definitivamente, teria ficado puta da vida comigo, mas não estaria naquele ponto de ônibus de maneira alguma.
Acho que todas as mães órfãs pensam coisas assim de vez em quando...
E se eu tivesse faltado ao trabalho?
E se não tivéssemos nos mudado pra Sorocaba?
E se tivéssemos escolhido aquela outra casa naquela outra rua?
E se você tivesse caído ao chão com as mãos amparando a queda? Será que teria tido o trauma craniano que teve?
Hoje, seu atropelamento completa dois anos.
Dois anos significam 730 dias sem você.
São 730 dias de insônia, de dor, de revolta, desespero e saudade.



Domingo passado estive no seu cantinho e levei as flores que o Jean mandou.
Como ele é lindo, Bi...
Hoje, a vó Dette me ligou pra contar que foi até o cemitério só pra conferir se alguém tinha roubado seus vasos!
Disse que estavam todos lá, bem floridinhos...
Florido, mesmo, era seu sorriso: aquele que não só me fazia esquecer dos problemas como, também, me fazia crer que o dia seguinte sempre seria melhor!
Amo você...