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segunda-feira, 27 de junho de 2011

1995: QUANDO APRENDI A AMAR




Início de 1995.
Grávida!
Estava grávida de você!
Eu sabia que seria uma menina, embora tenha desejado um menino desde sempre.
Foi tudo muito conturbado, estava brigada com meus pais e não tive aquele amparo dado habitualmente às mães de primeira viagem.
Hoje sei que isso foi fundamental pra que eu me transformasse na mãe que sou.
Tive uma gravidez tranqüila e, igualmente tranqüila, foi a sua chegada.
Você, que já devia estar entediada de tanto flutuar no líquido amniótico, decidiu que era hora de se aventurar do lado de fora da barriga.
Decidiu, aos 8 meses de gravidez e com a determinação dos petulantes que, aquele mundinho ali dentro de mim, era muito pouco pra você.
Nasceu num domingo, 24 de setembro de 1995, as 14:11h.
Este foi o domingo da fórmula 1 que não assisti, da macarronada que não comi e do soninho preguiçoso que não dormi.
Foi o domingo do choro mais gostoso que chorei e do choro mais lindo que ouvi.
Depois que coloquei os olhos em você pela primeira vez, chorei tão desesperadamente que mal podia controlar meus soluços.
Nessa hora, seu pai, felizardo por não estar no centro cirúrgico com a barriga aberta, pode sair do meu lado e acompanhar você até o berçário.
Permaneci ali, vulnerável, com a barriga aberta, sem conseguir parar de chorar.
Me lembro que uma enfermeira perguntou como seria seu nome, e eu mal conseguia falar!
Entre soluços, disse que seria Bianca.
Ela me pediu pra ficar calma e parar de soluçar, pois os médicos precisavam fazer a sutura da minha cesariana e, com todos aqueles soluços, ficaria ali com a barriga aberta pra sempre... rs
Nasceu antes da hora, tinha pressa de viver.
Não foi o bebê mais lindo do berçário, fugiu totalmente do esteriótipo de ‘bebê Johnson’ que toda mãe sonha.
Você era tão feinha, Bi...
Mas era a minha menininha com o cheirinho mais delicioso do universo.
Anos mais tarde, falaríamos, entre muitas risadas, que o tempo fora seu amigo. Que o tempo a presenteara com a beleza que negara quando do seu nascimento.
Você me pedia pra nunca mostrar a ninguém suas fotos de quando era bebê!
Boba você...
Você fez de mim uma mulher responsável.
O filho tem, normalmente, uma visão distorcida dos fatos: acha que deve sua vida à mãe, pois foi ela quem o colocou no mundo.
Te digo que isso não é verdade!
Eu, sim, devo minha vida a você!
Você foi a pessoinha responsável por fazer de mim uma MÃE incrível.
Devo a você o fato de ter conhecido o amor verdadeiro (que só se conhece quando se tem um filho), devo o aprendizado diário de comprometimento com o outro e a abdicação de algo em favor de quem se ama...
Devo a você cada segundo que vivi depois do seu nascimento e todos os outros que virão até o dia da minha morte.
Cada dia ao seu lado, durante esses 15 anos em que tive você comigo, nunca deixei de dizer o quanto te amava.
Muitas vezes, sussurrei em seu ouvido enquanto você dormia...
No dia do seu acidente, fui até seu quarto antes de sair pro trabalho pra ver se você estava com febre.
Você dormia.
Coloquei a mão no seu rosto e você se agitou na cama, abrindo brevemente os olhos e fazendo uma cara de reprovação.
Puxei o edredom sobre seus ombros, passei a mão na sua cabeça e falei baixinho que te amava.
Não me abaixei pra te beijar como sempre fazia, você tinha feito uma carinha de brava quando coloquei a mão no seu rosto.
Preferi te deixar dormir.
O que eu não podia imaginar, amor da minha vida, é que você dormiria pra sempre a partir daquele dia.
Feliz fui eu por ter sido sua mãe.
Feliz fui eu por ter tido seu amor.
Feliz fui eu por ter compartilhado minha vida contigo e ter feito parte da sua com tanta cumplicidade.


Muita saudade...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

TODOS OS MEUS AMORES

Nessa época, você ainda não era o mulherão que seria em alguns anos.
Era só a minha menininha, a irmã linda no Nícollas e a companheirinha da Ivy...







Nessa época, não tínhamos a menor idéia de que teríamos que aprender a viver sem você...

SAUDADE...


Meu amor...
Queria que você tivesse como ler o que escrevo.
Queria que você pudesse responder minhas escritas.
Na verdade, queria você aqui!
Sinto muita falta da nossa parceria!
Linda... Minha menina...
Amo tanto você!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SOBRE O PERDÃO



Não vou escrever para a Bianca hoje.
Este blog tem tido um alcance que não foi planejado, não foi pretendido.
A única coisa que pensei quando comecei a escreve-lo foi que seria uma
maneira de eternizar meu amor por ela e também de 'documentar' este
triste episódio para que o Nícollas e a Ivy pudessem ler no futuro.
O Nícollas disse que ainda não tem coragem de ler o que escrevo. Ele até já tentou, mas pelo que me disse, a coisa 'embargou' e ele achou melhor não continuar.
Um dia ele terá curiosidade e coragem de sentar aqui, entrar no blog e ler
nossa história.
Provavelmente, quando isso acontecer, ele já estará refeito dessa dor
imensa.
Assim espero.
Sempre que escrevo uma nova postagem, entro nas estatísticas do blog e
me deparo com uma listagem de países onde ocorrem acessos em quantidade significativa.
Dentre esses países, até mesmo o Afeganistão foi citado!
O número de pessoas que acessam é imenso e, mesmo não havendo uma quantidade equivalente de comentários, tenho recebido alguns emails que realmente me surpreendem e outros que me fazem vir até aqui hoje para esclarecer algumas coisas.
Leio absolutamente tudo o que chega até mim. Tudo mesmo, embora nem
sempre me encorajo a responder.
Abrindo meu email hoje, me deparei com dois que me fizeram parar por um instante, entrar no blog e reler todas as postagens.
Quero falar sobre perdão.
Perdão este que não darei ao assassino da minha filha.
Não é a primeira vez que recebo um email dizendo que eu devo perdoar o
atropelador, que isso fará meu coração ficar em paz, que o ódio não leva
ninguém a lugar nenhum.
Mais uma vez, quero deixar claro que tudo o que eu sinto por este homem, é NADA perto do amor que tenho pelos meus filhos.
O ódio que tenho por ele (e que é imenso) não move minha vida, meus passos ou meus atos.
Não acredito em Deus, logo, não existe a possibilidade de eu abraçar este
argumento como consolo à minha dor.
O fato de não acreditar em Deus não faz de mim um ser humano pior que
aquele que crê.
O que crê tem em quem se apegar para seu conforto, tem quem justifique
as barbáries do mundo.
Eu não tenho.
Gostaria de ter, porque é muito mais difícil acordar de manhã e tomar um
copo cheinho de realidade como eu faço dia após dia desde que tudo
aconteceu.
Sou muito realista, sempre fui, e isso acaba me deixando com os pés no
chão e me fazendo enxergar claramente o caminho que eu tenho que seguir.
O caminho que tenho pela frente, em momento algum, inclui o assassino.
Não penso nele quando acordo, quando como ou quando durmo.
Simplesmente não penso nele com frequência.
Olho pros meus filhos e vejo a dor em seus olhos.
Vejo o esforço de um querendo sempre falar de outro assunto que não
sobre a irmã morta.
Vejo o esforço de outro em sempre falar dela como uma forma de mante-la viva na memória.
Nessa hora, não tem como não amaldiçoá-lo!
Eu realmente lamento essa merda de justiça que temos.
Lamento a falta de preparo desse lixo de polícia que, dizem, existe para a
proteção do cidadão.
Sou consciente de que o vagabundo não erá punido, e por isso rogo por sua infelicidade eterna.
Não tenho vocação pra santa. Nunca tive.
Se Deus existe, como todos que me escrevem acreditam, ele que o perdoe se assim ele merecer.
Perdoá-lo não é minha função.
Sou uma mulher feliz, tenho saúde, tenho filhos lindos, sou gente boa pra
caramba, mas não sou hipócrita.
Fé não se compra no mercado.
Isso é coisa que se sente, ou não.
E eu não sinto.
Espero não ter sido grosseira.
Respeito e entendo a preocupação das pessoas em relação a isso, mas não posso dizer que vou perdoar essa pessoa.
Não vou fazê-lo.
Ele ainda há de me olhar nos olhos pra explicar cada detalhe daquele dia.
Eu estarei ali, ouvindo.
E quero ver, em seus olhos, a sombra do remorso que desejo que carregue pelo resto de sua vida.
Sinceramente, há perdão para os assassinos dos casos abaixo?

ISABELLA NARDONI

JOÃO HÉLIO

GILMAR RAFAEL S. YARED e CARLOS MURILO DE ALMEIDA


Pois é... Para o assassino da minha filha, também não.
Não sou capaz disso.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

VOCÊ, POR VOCÊ MESMA...

Hoje, seu irmão me trouxe um cartão de memória que estava em seu celular.
Entre fotos, músicas e vídeos que já tínhamos visto, encontramos um texto escrito por você e salvo ali, numa pastinha escondida.
Digo escondida não porque essa fosse sua intenção, mas porque nós não a tínhamos encontrado até então.
Tão bom ler você e fazer parte disso...



"Eu sei que existem problemas maiores e mais sérios que os meus, traumas bem piores, mas nem por isso eu não sofri demais [...]
Me perguntaram o que me faz bem e do que tanto eu gosto...
Eu gosto de ser feliz, de chegar em uma festa e dançar até o DJ desligar o som. De olharem pra mim e me admirarem ao invés de invejarem...
De tirar fotos com meus amigos e ter uma história pra contar.
Gosto de ter algo de bom pra falar ao lembrar de alguém, de não ter alguém que eu odeie e que queira mal do fundo do coração.
De ser eu mesma apesar do meu jeito variar com o meu humor...
Eu gosto de ter sentimentos tão intensos por todos que me cercam, de poder dizer desde um 'eu te amo' até um 'eu me decepcionei com você' e sentir aquilo com toda a certeza pelo menos naquele momento.
Gosto também de quando alguém me abraça, porque se eu to feliz isso é transmitido, e se eu to triste eu desabafo sem precisar dizer nada.
Eu gosto de um milhão de músicas, de um milhão de cores e de cantar e olhar pra todas elas!
Gosto de sair com a minha mãe pra almoçar e falar bobagens , de chegar em casa e ver minhas coisas, sentir o cheiro da minha família, de andar de ônibus com minha irmãzinha...
De dublar uma música em frente do espelho do banheiro e demorar até alguém bater na porta.
Eu gosto de sentir frio na barriga, gosto de sorrir! É mega fácil me fazer sorrir e isso é evidente, mas não é só por que você me tirou um,dois,dez ou cem sorrisos que você me conquistou.
Ta aí! Achei a resposta!
Gosto de quem não force nada. Que deixe rolar e o tempo passar, sem esperar que as coisas aconteçam logo, mas que ao mesmo tempo faça acontecer ao invés de só esperar. Que me surpreenda e seja surpreendido também, que me conquiste e faça história na minha vida. Que escreva seu nome em algum lugar do meu quarto, e vá embora pra eu olhar e sentir que ele ainda está ali.
Meio complicado, mas possível.
Tem sempre um curioso que tenta te decifrar, esse curioso pode ser quem você procura.
Não trato mais como prioridade quem me trata como opção.
Sou indiferente às vezes, não demonstro muito o que sinto.
Tem horas que ouço coisas lindas, mas que penso não merecer ouvir ou não poder retribuir pra dizer qualquer palavra."





Minha filha,

Tenho saudade idêntica de sair contigo pra almoçar e falar bobagens.
Nossas bobagens sempre foram imbatíveis...
Sábado passado pensei tanto em você!
Se realmente é possível a você enxergar o meu mundo daí de onde está, certamente viveu uma cômica aflição por mim neste dia.
Juro que podia ouvir, ao pé do meu ouvido, sua voz dizendo:

"Mãeeeee... Você tá ridícula..."

Eu te amo demais, minha florzinha.
Estamos bem, fique bem também...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

SUA MARCA REGISTRADA


Anteontem, abri sua mala de roupas.
Aquela onde guardei todas as suas coisas.
Coisas suas que ainda estão misturadas às minhas.
Tem feito tanto frio aqui, que me lembrei de uma blusa preta que dividíamos frequentemente.
Eu a peguei mas, antes disso, olhei peça por peça novamente.
Suas blusinhas de calor, os shorts minúsculos que eu implicava quando você usava, seu pijaminha... Seu All Star...
Você os calçava no dia do atropelamento.
No hospital, quando nos permitiram entrar na UTI, nos entregaram um saco plástico com suas roupas cortadas pelo resgate, molhadas pela chuva e urinadas pela sua atual condição.
Não me torturei a ponto de fazer questão de manter isso tudo num altar, mas fiz questão de guardar seus tênis.
Me lembro de quando foi comprá-los...
Você foi, com seu amigo Lucas, até meu trabalho durante meu horário de almoço pra pegar o dinheiro.
Todas as minhas colegas do escritório acharam você maravilhosa, e não acreditavam que você era minha filha...
A gente se divertia com isso, lembra?
As pessoas achavam que éramos irmãs!
De certa forma, não estavam erradas, não é?
Quando cheguei em casa à noite, não acreditei que você havia sido capaz de comprar os tênis praticamente dois números menor que seus pés.
Tive um ataque de fúria, e você garantiu que eles estavam confortáveis, e que a 'forma' era grande...rs
Dois dias de uso e te flagrei de chinelos, com duas imensas feridas nos calcanhares!
Novamente, não resisti em dizer: "Bem feito, Bianca, eu te avisei..."
Nós, mães, adoramos atestar nossa razão.
Hoje, as lembranças me mantém viva.
As lembranças e a 'sede'.
Estou cuidando de tudo, meu anjo... Seus irmãos estão bem.
Eu que não estou muito...

sábado, 4 de junho de 2011

MIRANDA


De nada adiantou suas cartas, suas conversas, seus pedidos...
Sua clareza na maneira de ver e entender as coisas realmente não serviram de exemplo a quem deveria.
Estive na nossa casa ontem.
Casa sem vida, casa sem você...
Trouxe a Miranda pra fazer companhia à nossa Ivy, fará muito bem à ela voltar a conviver com essa gata dorminhoca.
Trouxe também sua mala de roupas, coisinhas suas que nos ajudarão na difícil tarefa de tentar matar a saudade, já que os cd's com as fotos da nossa família 'desapareceram' misteriosamente do local onde guardei.
Acredite, filha...
Há quem seja mesquinho até quando se trata de recordações!
Hoje é sábado, está muito frio, fiz uma sopinha bem gostosa e estou com muita saudade de você.
Muita saudade, minha flor...