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sexta-feira, 17 de junho de 2011

SOBRE O PERDÃO



Não vou escrever para a Bianca hoje.
Este blog tem tido um alcance que não foi planejado, não foi pretendido.
A única coisa que pensei quando comecei a escreve-lo foi que seria uma
maneira de eternizar meu amor por ela e também de 'documentar' este
triste episódio para que o Nícollas e a Ivy pudessem ler no futuro.
O Nícollas disse que ainda não tem coragem de ler o que escrevo. Ele até já tentou, mas pelo que me disse, a coisa 'embargou' e ele achou melhor não continuar.
Um dia ele terá curiosidade e coragem de sentar aqui, entrar no blog e ler
nossa história.
Provavelmente, quando isso acontecer, ele já estará refeito dessa dor
imensa.
Assim espero.
Sempre que escrevo uma nova postagem, entro nas estatísticas do blog e
me deparo com uma listagem de países onde ocorrem acessos em quantidade significativa.
Dentre esses países, até mesmo o Afeganistão foi citado!
O número de pessoas que acessam é imenso e, mesmo não havendo uma quantidade equivalente de comentários, tenho recebido alguns emails que realmente me surpreendem e outros que me fazem vir até aqui hoje para esclarecer algumas coisas.
Leio absolutamente tudo o que chega até mim. Tudo mesmo, embora nem
sempre me encorajo a responder.
Abrindo meu email hoje, me deparei com dois que me fizeram parar por um instante, entrar no blog e reler todas as postagens.
Quero falar sobre perdão.
Perdão este que não darei ao assassino da minha filha.
Não é a primeira vez que recebo um email dizendo que eu devo perdoar o
atropelador, que isso fará meu coração ficar em paz, que o ódio não leva
ninguém a lugar nenhum.
Mais uma vez, quero deixar claro que tudo o que eu sinto por este homem, é NADA perto do amor que tenho pelos meus filhos.
O ódio que tenho por ele (e que é imenso) não move minha vida, meus passos ou meus atos.
Não acredito em Deus, logo, não existe a possibilidade de eu abraçar este
argumento como consolo à minha dor.
O fato de não acreditar em Deus não faz de mim um ser humano pior que
aquele que crê.
O que crê tem em quem se apegar para seu conforto, tem quem justifique
as barbáries do mundo.
Eu não tenho.
Gostaria de ter, porque é muito mais difícil acordar de manhã e tomar um
copo cheinho de realidade como eu faço dia após dia desde que tudo
aconteceu.
Sou muito realista, sempre fui, e isso acaba me deixando com os pés no
chão e me fazendo enxergar claramente o caminho que eu tenho que seguir.
O caminho que tenho pela frente, em momento algum, inclui o assassino.
Não penso nele quando acordo, quando como ou quando durmo.
Simplesmente não penso nele com frequência.
Olho pros meus filhos e vejo a dor em seus olhos.
Vejo o esforço de um querendo sempre falar de outro assunto que não
sobre a irmã morta.
Vejo o esforço de outro em sempre falar dela como uma forma de mante-la viva na memória.
Nessa hora, não tem como não amaldiçoá-lo!
Eu realmente lamento essa merda de justiça que temos.
Lamento a falta de preparo desse lixo de polícia que, dizem, existe para a
proteção do cidadão.
Sou consciente de que o vagabundo não erá punido, e por isso rogo por sua infelicidade eterna.
Não tenho vocação pra santa. Nunca tive.
Se Deus existe, como todos que me escrevem acreditam, ele que o perdoe se assim ele merecer.
Perdoá-lo não é minha função.
Sou uma mulher feliz, tenho saúde, tenho filhos lindos, sou gente boa pra
caramba, mas não sou hipócrita.
Fé não se compra no mercado.
Isso é coisa que se sente, ou não.
E eu não sinto.
Espero não ter sido grosseira.
Respeito e entendo a preocupação das pessoas em relação a isso, mas não posso dizer que vou perdoar essa pessoa.
Não vou fazê-lo.
Ele ainda há de me olhar nos olhos pra explicar cada detalhe daquele dia.
Eu estarei ali, ouvindo.
E quero ver, em seus olhos, a sombra do remorso que desejo que carregue pelo resto de sua vida.
Sinceramente, há perdão para os assassinos dos casos abaixo?

ISABELLA NARDONI

JOÃO HÉLIO

GILMAR RAFAEL S. YARED e CARLOS MURILO DE ALMEIDA


Pois é... Para o assassino da minha filha, também não.
Não sou capaz disso.

3 comentários:

  1. é Gabi...
    Geralmente Deus é uma Forma Que As Pessoas Usam para poder Fugir da Realidade... Uma Forma de Achar que Vai Melhorar Pelo Simples Fato de Rezar...
    Eu Sou Indeciso... Acho que Sou "Ateu" (Quem não Acredita em Deus... Queem Vive mais pela Logica...Andeei Conversando Mt Com o Professor de Filozofia [Horácio] Tudo tem uma Lógica...).
    Nós Estamos No Brasil, Parece não Haver Justiça, Policia Serve Apenas pra; Enquadra e Prende Enocentes...
    Quando é Obvio que o "Individuo" é Culpado, a Justiça nãao é Feita...

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  2. Gabi, compreendo o que vc senti, não por tê-la passado, mas por ler isso tudo e por ter uma filha assim como a sua, nunca passei e nem quero passar por essa situação. Mas vc disse não acreditar em Deus, então gostaria de fazer uma pergunta...independentemente do seu perdão pelo fdp que atropelou a sua filha, esqueça ele, não é dele que quero falar. Só gostaria de saber, o que vc acha que acontece quando morremos? Não quero impor nada à vc e nem argumentar nada, mas fiquei com essa dúvida qdo vc disse que não acreditava em Deus...
    meu e-mail é o mesmo, não sei se vc tem ainda...
    glauci_lima@hotmail.com

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  3. Fora a arte de acreditar em Deus...Querida concordo com vc em tudo,estou lendo o blog,o descobri hj e o estou lendo desde o primeiro post.
    Como vc é MÃE,como vc é GUERREIRA,como vc é FORTE...
    Nem tenho o que falar...
    Apenas que sim...esse ASSASSINO NÃO MERECE PERDÃO,E SE TIVESSE O MINIMO DE VERGONHA OU SEI LÁ O QUE SE MATARIA,MAS SE BEM Q NUNCA ACHO QUE SE MATAR FARIA "JUS" AO QE ELE FEZ...APESAR DE NÃO CONHECE-LA,NÃO CONHECER TUA ANJA DESEJO QUE ESSE INFELIZ PASSE O RESTO DA VIDA DELE COM A SOMBRA DO REMORSO,DA DOR E DO SOFRIMMENTO A PERSEGUI-LO

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