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sábado, 19 de março de 2011

QUANDO TUDO ACONTECEU...




A única coisa que ela me pediu foi um par de tênis.
Ok... Um par de tênis e uma calça nova.
Eu adorava quando ela ia me esperar na saída do trabalho pra gente comprar as coisinhas que ela queria em parceria com um lanche bem engordativo e um sundae do Mc Donald’s.
Em 28/02/11 foi diferente:

JORNAL CRUZEIRO DO SUL


Falei com ela às 17:00h.
Às 17:10h, quando tornei a ligar pra saber se ela tinha pego um guarda chuva, já estava estirada ao chão aguardando o resgate.
No ponto de ônibus, na calçada, linda, loura, maquiada e atropelada.
A – TRO – PE – LA – DA !
Quando a UTI móvel chegou à emergência do hospital e as portas se abriram, vi minha filha sedada, entubada e partindo.
Peguei sua mão e sussurrei em seu ouvido querendo que ela soubesse que eu estava ali: “Filha, a mamãe ta aqui”.
Duas horas de espera sem nenhuma notícia.
Sabia que era grave, eu vi minha filha saindo da ambulância.
Sabia também que não adiantava esmurrar as portas da emergência em busca de respostas naquele momento. Ela estava sendo examinada, bateu a cabeça, estava em coma.
Isso exigiu de mim uma força e uma calma que não sei de onde tirei.
Uma enfermeira nos deixou entrar na UTI para vê-la (eu e o pai dela).
Era inacreditável aquilo tudo.
Abri os olhos dela, as pupilas estavam midriáticas.
Me preocupei ainda mais, gostaria de ser ignorante nessa hora.
Perguntei pra enfermeira se ela corria risco de morte e ela, muito sinceramente, confirmou.
Pouco depois, o neurocirurgião nos chamou pra falar sobre o estado da Bianca e dos procedimentos que seguiriam.
Ser médico, nessa hora, deve ser a pior coisa do mundo (depois de ser a mãe da vítima).
Ele tinha que dar uma notícia cruel sobre uma adolescente de 15 anos a seus pais.
O pai dela não parava de chorar, era desesperador assistir àquilo.
O médico começou seu discurso dizendo que ela era forte, era jovem, que ia lutar muito e tal.
Ele estava no papel dele, mas eu não queria panos quentes, eu queria a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade.
Pedi que assim fizesse.
E assim foi feito.
Meu lado racional gritava com o emocional.
Ele foi franco: o trauma que ela tinha era o mais grave entre todos os traumas de crânio existentes, e que a chance de sobrevivência era mínima.
Ele informou que faria uma cirurgia para retirada de um coágulo que se formou no lado esquerdo do cérebro e que faria a retirada de uma parte da calota craniana para alívio da pressão.
Questionado sobre as reais possibilidades da cirurgia, ele, muito francamente, disse que caso ela conseguisse suportar a cirurgia e eventualmente passar pelo pós-operatório, teria seqüelas gravíssimas. Viveria em estado vegetativo.
Seria egoísmo querer uma filha nesse estado?
Falamos sobre isso algumas vezes: ela teria preferido morrer se tivesse essa opção.
Me levantei e , antes de sair da sala, segurei as duas mãos do médico, agradeci sua franqueza e pedi que fosse lá, fizesse o melhor possível e arrasasse.
Pouco pôde ser feito diante daquele traumatismo craniano.
Na verdade, nada pôde ser feito.
Ela faleceu na manhã do dia seguinte: 01 de março de 2011.
Suportou a cirurgia, mas teve duas paradas cardíacas na manhã seguinte.
Eu tinha passado a madrugada inteira pensando sobre doação de órgãos. Na verdade, estava trabalhando isso dentro da minha cabeça, pois sempre achei que não fosse capaz de tamanha generosidade.
A parada cardíaca impossibilitou a “doação em massa”, mas suas córneas serão responsáveis por uma importante mudança na vida de um desconhecido.
Me orgulhei por ter conseguido fazer isso...
Nesse momento, minha cabeça começava a se organizar em planilhas: o que (e como) dizer aos irmãos menores, onde o corpo seria velado, como eu viveria sem essa menina, como dar a notícia aos amigos, quem era afinal o assassino, onde ele morava, enfim... Pirei.
Faleceu aos 15 anos de idade, deixando pra trás um amontoado de sonhos que jamais serão realizados.
O homem que a matou tem nome, tem endereço e tem minha eterna maldição.
Nada a trará de volta e, sinceramente, lamento não poder fazer justiça com minhas próprias mãos.
Tenho mais dois filhos, e somente por isso vou torcer para que o remorso o leve ao suicídio.
Minha filha foi a criatura mais especial que existiu nesse mundo.
Minha melhor amiga, a maior parceira que tive na vida.
Tínhamos uma relação deliciosa, de amor incondicional e admiração mútua.
Tem sido insuportável não poder mais abraçá-la todas as noites e apertar aqueles ombrinhos macios.
Mais insuportável é constatar que, agora, dou um beijo de ‘boa noite’ a menos quando coloco as crianças pra dormir.
Uma cama fica vazia.
Minha vida está muito mais vazia.

“Boa noite, filhinha...
A mamãe está bem, por você...
Eu te amo!”

16 comentários:

  1. ao me deitar no travesseiro eu me lembro, e não consigo acreditar, em oraçao eu peço a Deus que a cubra, e que esteja em um bom lugar.
    É mesmo inacreditavel. seria tão bom ter ela aqui com agente brincando e sorrindo, mas as coisas nem sempre sao como a gente quer e quando a gente quer, deixou muitas saudades e muitas lembranças boas.

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  2. eu so a conheci de vista e so a vi no maximo duas veses mais sempre a achei linda
    e é imposivel acreditar qe uma pessoa posa morrer asim!pra morrer so basta estar vivo mesmo
    e agora lendo as palavras da senhora me emocionol tanto que eu chorei muito mesmo eu nao a conhecendo nao sendo amiga dela nao sendo nada me comoveu muito a morte dela mais agora ela esta num lugar bem melhor que aqui! e ela sempre vai olhar pelas pessoas que gostam dela que pena que eu nao tive tempo e nem oportunidade de tela conhesido conversado sido amiga dela que deus te abencoe bianca calegari s2

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  3. Eu estava lá, vi quando sua mãe pegou aquela necessaire e falava que vocês haviam combinado que ela a deixaria mais linda ainda se algo acontecesse e por ironia do destino algo contra a natureza a fez pegar naquele rímel e delicadamente passar em seus cílios, um por um com tanto zelo, que me fez por um instante me sentir tão pequena...eu, na frente daquele ser de luz pintando os olhos, depois os lábios de sua filhinha tão linda dentro daquele caixão, admirei-a ainda mais! Sua mãe Bianca a ama com tanta intensidade que nem ela mesma consegue compreender o tanto!

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    1. Eu jamais entenderei esta força Gabi, vc ssbe o quanto eu fui covarde, me neguei vê minha filha inerte, te adimiro por esta coragem.

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  4. Gabi nossa não posso acreditar, e imagino a dor imensa que esta sentindo, chorei muiiito, mas tenho certeza que Deus e os anjos estão cuidando dela direitinho e que te darão forças ainda maiores....

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  5. nossa, você é uma mãezona, como pode suportar tanta dor em meio a isso tudo, li seu blog inteiro e vejo como você a amava, como era a convivência de vocês, era linda a forma de como vocês eram amigas, não conheci sua filha, nem nunca tinha ouvido falar dela, via umas fotos de amigos em comum só, me comovi com isso tudo, nem dormi de noite pensando em como as noites devem ser tão conturbadas e horríveis de ir para cama e sentir que algo lhe falta, e digo mais, dizem que Deus sabe o que faz, mais ela não merecia isso, e se foi uma lição tenho certeza que ninguém entendeu, uma menina tão bonita, que não fazia mal algum a ninguém, partir assim, podia ter vivido muito mais coisas, muitos roles, muitos amores, muitas decepções, teria aprendido mais, chorado mais, e principalmente sorrido e mais.
    ela esta olhando por você.

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  6. vi o vídeo por acaso no you tube ao procurar algumas musicas. então pesquisei fontes sobre a matéria..., achei importante, não sei porque. escrevo estas palavras com lágrimas escorrendo, e lembrando de minha filha, Samantha, de quase 5 anos no quarto, dormindo, linda, maravilhosa, a coisinha mais linda que tenho em minha vida, e confesso não saber viver sem ela. que Deus dê muita força a vocês, meus sinceros sentimentos, pois no meu caso, ..., eu preferiria a morte, um milhão de vezes.sady - sadyambiental@hotmail.com

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  7. É sem dúvidas, um fato por demais lamentável. No auge da vida, uma garota ser bruscamente retirada dela, por um infortúnio ocorrido.
    A dor da saudade é imensurável, mais o amor sentido por ela, por sua mãe, seu pai, irmãos e amigos, de certo, dá uma sensação de conforto espiritual, se é que isso é possível.
    É muito difícil de se descrever os sentimentos mais profundos, diante de uma situação desse tipo, principalmente o de uma mãe amorosa.
    Somente o amor,a resignação,a fé e o tempo, irão, de alguma maneira, dá uma sensação de que ela está, certamente, bem acolhida pelas divindades cósmicas, e reiniciando uma nova etapa de evolução na plenitude se sua existência eterna.
    Na verdade você não morreu, e sim, transcendeu ao tempo numa nova dimensão. Afinal só morremos plenamente, quando somos esquecidos pelas mentes e ausentes nos corações de quem aqui neste plano, ainda permanece presente. Tanto porque, existe muita gente que já está morta, mesmo ainda nesta vida.

    Fique bem em sua nova jornada de vida, linda Bianca. Você é mais uma estrela que passou a brilhar intensamente nas constelações do universo.

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  8. desejo muita força , que Deus possa lhe dar sempre bons pensamentos, porque isso é muito dificil para uma mãe, mas sua filha está em um bom lugar, e ela olha por você todos os dias !

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  9. Me lembro e choro todo dia, pelo ocorrido, é tão pouco viver sem o teu olhar, sem o seu sorriso, sem suas brincadeiras, sem ouvir tua vóz, sem amor na minha vida, sem ter o por que sonhar. é dificio descrever essa dor, Impossível.

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  10. Gabi, estou passando pela mesma situação que você, minha filha morreu atropelada dia 27/09/2011, e estou vazia também, querendo saber o porque também, querendo entender também.
    porque os bons morrem, minha filha tinha 18 anos estava se formando e ja estava trabalhando, foi atropelada dia 19/09 as 11:30 da manhã quando voltava do trabalho, faleceu dia 27/09/2011 as 14:30 e levou junto os seus sonhos e a minha vida.

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  11. Meu e-mail é Cinthia.rodrigues50@hotmail.com sou a Cinthia Regina mãe da Juliane Rodrigues, atropelada dia 19/09/2011 e falecida dia 27/092011.

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  12. Escrevo essas palavras com os olhos cheio de água, mesmo que eu não tenha tido muito contato com a Bi hoje dois anos depois choro quando lembro daquele sorriso lindo que ela tinha, da alegria que ela transmitia apenas de estar em tua presença.... Saudade daquela loura linda, que Deus a cada dia que passe te de forças.... Pois acredite ela esta num lugar lindo e tranquilo, cuidando, protegendo e dando forças a todos nós que sem ela aqui estamos. Que Deus te abençoe.... E te de a cada dia que passa mais forças para continuar. Boa noite.

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  13. Poxa vida fui procurar o nome de uma pessoa e acabei encontrando essa história tão triste, mas ao mesmo tempo tão rica de aprendizados para os leitores. Foi bom ter encontrado este site por engano. Não consegui ler tudo, mas estou desde o inicio da tarde tentando me desligar e não consigo. Tantas histórias bonitas, vc junto à sua filha, a linda pequena Ivy, o irmão tão belo e aparentemente sereno e o pai, com sua tatuagem em homenagem à filha. Um texto tão bem escrito que dá vontade de continuar lendo, principalmente quando repassa diálogos com a sua filha. Triste quando acaba a história, será que vc está bem? Senti esperança de que vc deve ter superado um pouco mais a partida da sua filha querida. Vou rezar hoje por Bianca e por vcs. Para que Deus continue abençoando e enchendo de amor os corações dos familiares que ficam. É meio injusto isso acontecer, mas com certeza Bianca deve entender bem mais do que a gente os porquês desses sofrimentos, as partidas repentinas e precoces. É um alento pensar que ela está feliz e em paz, aprendendo coisas novas na vida, fazendo a faculdade mais rigorosa do mundo, tentando aprender o máximo para aplicar posteriormente esse conhecimento, que com o tempo tendemos a esquecer. Fiquem em paz. Um forte abraço, Cecília

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  14. Eu jamais entenderei esta força Gabi, vc ssbe o quanto eu fui covarde, me neguei vê minha filha inerte, te adimiro por esta coragem. Um grande beijo e sinta um abraço bem forte, abraço de nordestino, desta amiga que vive com você esta mesma dor. Cleide Selma Guimarães.

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  15. Li todo o seu blog de uma vez. Sou mãe e em diversas passagem me peguei pensando se estivesse em seu lugar!
    Não faço a menor ideia de como está o seu coração e o de toda a sua família nesse momento. Espero que os irmãos da Bianca estejam bem, que você esteja bem, tocando sua vida da melhor maneira que puder.

    Moro em Fortaleza e provavelmente nunca poderia lhe encontrar para dar um abraço e dizer que, mesmo despedaçada, você foi e é inspiração para muitas mães.

    Desejo que sua vida e a de sua família, seja feliz, que o amor seja maior que tudo.

    De longe, envio o meu abraço e carinho a você e a todos os seus, inclusive à linda Bianca.

    Camile (camilecavalcante@gmail.com)

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