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segunda-feira, 25 de julho de 2011

FAZER O BEM SEM OLHAR À QUEM


Naquela noite, enquanto você estava na UTI, permaneci numa sala de espera com seu pai e o Martinho.
Aquele pouquinho de entendimento que o curso de enfermagem me havia dado, fez com que eu passasse aquela noite amadurecendo a idéia sobre doação de órgãos.
Lembro que falei sobre isso com o Martinho.
Eu dizia que tinha a sensação de que, a qualquer tempo, alguém viria falar comigo sobre a doação de seus órgãos.
Eu, que de maneira ignorante, sempre me posicionei como uma não doadora, que dizia que enquanto o coração estivesse batendo havia vida, e que se eu ficasse numa situação de coma que me deixassem vegetar eternamente, estava agora considerando a possibilidade de salvar vidas em seu nome.
Quando falei sobre isso com o Martinho, bem baixinho pro seu pai não ouvir, ele pediu pra eu parar de falar bobagem, pois você estava se recuperando da cirurgia.
Parei de falar, mas não de pensar.
Sabia que, sobre este assunto, se alguém viesse falar conosco, seria dentro de 18 horas aproximadamente.
Não deu tempo.
Uma parada cardíaca impediu que as coisas chegassem a este ponto.
Fui pra casa ficar com seus irmãos, e seu pai ao IML por causa da autópsia.
A demora da liberação de seu corpo me afligia, queria que aquilo acabasse logo.
Não podia mais ficar imaginando o que estavam fazendo com você naquele lugar...
Foi quando seu pai me ligou perguntando se eu autorizava a doação de suas córneas.
Havíamos chegado ao ponto.
Minha primeira reação foi perguntar se esse procedimento seria demorado e, no mesmo momento, me dei conta de que isso já não tinha a menor importância:

- Pode doar.

Desliguei o telefone, fiquei em silêncio por um instante e fui tomada por uma salada de sentimentos contraditórios, onde nas frestas da tristeza e da dor, o orgulho e a esperança se fizeram presentes.
Eu realmente fiquei orgulhosa de mim por aquela decisão.
Tive a consciência imediata de que, através de você, através de ‘seus olhos’, uma ou duas pessoas poderiam passar a enxergar o mundo que você não mais podia ver.
Não tive aquela vaidade de pensar que um pedacinho seu continuaria vivo em outra pessoa, mas vi, com exatidão, a grandeza do verbo DOAR.
Sorocaba tem um dos maiores BANCO DE OLHOS do Brasil.
Torço para que as pessoas beneficiadas por esta doação sejam pessoas de bem, apenas isso.
Torço para que todas as pessoas que passem por uma situação como a que passamos, possam encontrar um pouquinho de serenidade para ponderar sobre doação de órgãos.
E que, ao final, possam optar pelo ‘SIM’, vivendo com o orgulho de saber que o bem fora feito, ainda que anonimamente e em favor de alguém igualmente anônimo.


Um comentário:

  1. oi mãe da bianca tudo bem com a senhora?
    não conheçi a sua filha mas uma colega minha conheceu ela e ja vi nela mas vi de longe ela e muito bonita.
    parabens por ter um filha igual a ela eu leio tudos os sos dias e choro com as postagens que a senhora faz para ela que bom que a senhora divide o seu amor pela a sua filha pra gente.
    fla_nunes_oli@hotmail.com meu e-mail.
    um beijo pra senhora e um abraço

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