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domingo, 30 de dezembro de 2012

CIRANDA DE PAIS


Dia desses, no carro, a Ivy me perguntou:

- Mãe, onde era mesmo que a Tata sentava aqui no carro?

Quando eu dirigia, ela era minha carona. Sempre ao meu lado.
Quando eu era a carona, ela sempre se sentava no banco de trás, bem atrás de mim.
Não tem como esquecer, pois além de ficar mexendo no meu cabelo, a gente trocava olhares e risos via retrovisor a cada 'gatinho' que passava no carro ao lado.
A Ivy duvidou, discutiu e nada a convenceu.
Percebi que algumas coisas começaram a se desmanchar em sua memória...
Apesar de ser natural, isso me deixou um pouco abalada.
Nesses últimos dias, estou absolutamente derrotada.
Não por causa do natal, o segundo sem ela...
Natal, pra mim, não faz sentido algum além da comilança infinita na casa da minha vó e das crianças se acabando de ganhar presentes.
Mas o ano novo... Esse sim me destrói!
Não sei como as outras 'mães órfãs' se sentem sobre isso.
Sinto como se estivesse rodeada por pessoas - familiares e amigos - folheando um grosso livro de memórias pertencente à uma vasta enciclopédia sobre a vida da Bianca.
Cada página, cada ilustração, cada frase, cada acontecimento... Tudo isso está ali.
De repente, no dia 31 de dezembro, termino de ler a última linha de um desses livros e, inevitavelmente, preciso fechar a contracapa.
Nesse momento, quando fecho o livro, o número de pessoas interessadas por essa história, é reduzido à metade.
No dia 01 de janeiro, sei que vou começar a folhear mais um volume dessa enciclopédia com a mesma saudade, com a mesma indignação e a mesma dor.
Sei, também, que a platéia sentada a meu redor, estará diminuta.
A cada novo volume iniciado todo dia 01 de janeiro pelos próximos anos da minha vida, será assim.
Cada vez menos gente em torno da minha poltrona, até que passarei a fazer a leitura de maneira silenciosa.
Isso também é natural!
Só gostaria que passasse rápido...
Estou falando da minha vida.
Queria que passasse rápido, acabasse rápido e que a senilidade se abrigasse em mim antes da hora...
A vida de uma mãe órfã navega entre o sensato e o hediondo com a mesma naturalidade e direito, e passa a ficar à deriva sem saber onde aportar.





Um grande abraço à todas aquelas pecinhas que formam o imenso 'MOSAICO DE HISTÓRIAS' da campanha NãoFoiAcidente.
Formamos um grande grupo de luta por uma mesma causa e, mesmo que não tenhamos o contato físico tão fundamental para que algumas pessoas rotulem o outro como amigo, temos uma coisa muito maior.
Nós conhecemos, entendemos e não julgamos a dor do outro.
Nos ouvimos, nos apoiamos e tentamos fazer a diferença para que chegue o dia em que esse 'MOSAICO' pare de crescer.
Rosmary Mariano, obrigada por fazer essa ponte entre todos nós.
É estendendo a mão à quem está ao nosso lado que conseguimos formar uma imensa ciranda.
E esta, em breve, terá sido a ciranda responsável pela mais persistente campanha com resultados efetivos nesse país: www.naofoiacidente.org



sábado, 8 de dezembro de 2012

VOCÊ CONHECE UMA MÃE QUE PERDEU UM FILHO?


Você conhece uma mãe que perdeu um filho?
Então telefone pra ela, conte-lhe sobre um filme que você assistiu!
Com certeza ela não vai se interessar pelo que você está contando, mas vai se lembrar que alguém ligou pra ela.
Passe na casa dela!
Eu sei..... É desagradável visitar alguém que sofre, mas diga que está com pressa, minta...
Ela nem vai perceber que você está mentindo...
Abrace-a!
Um abraço apertado, gostoso... Se ela molhar sua roupa, tudo bem! É só lavar depois.
Se você fizer um bolo, leve um pedaço pra ela!
Um bolo nunca mais terá gosto de festa, mas pode ter gostinho de amizade.
Deixe que ela fale sobre seu filho. Vivo ou morto, é o filho dela!
Ela tem saudade, ela tem lembranças, ela tem que viver!
Sobra tão pouco pra uma mãe que perdeu um filho, que independente de quantos ela tenha, um simples sorriso pode iluminar seu dia!
Você sabe o que é solidão?
Não?
Então, lembre-se dela.
Não diga o que ela tem que fazer!
Ela não tem que fazer mais nada...
E jamais diga: " Esqueça , já passou!" ou "Você tem que seguir sua vida!".
Apenas ouça o que ela tem a dizer. Faça-lhe companhia...
Se você conhece uma mãe que perdeu seu filho, abrace o seu.
Não tenha medo de dizer "te amo".
Eu sei, adolescente é chato, mas ele vai gostar de ouvir!
Já é adulto?
Não tem importância...
Diga-lhe: "estou aqui".

Fonte:http://www.apoiomae.blogger.com.br/

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PALAVRAS DE ALGUÉM QUE ATROPELOU


Dois meses após a morte da Bianca, recebi um email de uma leitora desconhecida.
Para minha total surpresa, se tratava de uma pessoa que vivera o lado inverso do atropelamento.
Ela, cujo nome não importa, foi a motorista envolvida num atropelamento que tirou a vida de uma menina de 18 anos.
Não serei, aqui, 'advogada' de defesa ou acusação.
Apenas gostaria de compartilhar com vocês este relato que considero forte e corajoso:



"Olá, li seu blog inteiro hoje de noite e resolvi escrever pra ver se consigo te dar algum tipo de tranquilidade frente ao que aconteceu com sua filha.

Peço, antes de me julgar, de me responder ou até de publicar esse email, que leia até o final o que eu tenho pra te dizer.

Hoje, falo pra você como uma mãe também.

Me tornei mãe há exatos 19 dias e, só a partir daquele momento, pude mensurar o que é a dor de perder um filho.

Não, comigo não aconteceu algo assim!

Mas fui a outra parte.

Essa mesma parte que é motivo do teu ódio hoje.

No final do ano de 2004, fui o motivo de ódio de outra mãe.

Veja, não quero sob hipótese alguma defender quaisquer pessoas. Quero só que você leia...

Naquele dia, eu atropelei uma menina que acabara de fazer 18 anos.

Não sei como foi o acidente da Bianca mas, no meu caso, eu estava na BR, indo pra faculdade (eu com 21 anos) quando aconteceu.

Meu carro era novo, eu não estava bêbada, nem drogada, nem rápido demais, nem nada errado.

Mas eu fui o veículo que ligou a vida e a morte de uma menina com todo o futuro pela frente.

Você deve estar se perguntando o por quê de estar te contando isso.

Queria só que você soubesse que eu, do outro lado, também sinto!

Chorei imensamente quando li seu blog não só de emoção me colocando no lugar de uma mãe, mas também porque entendi o sentimento que causei mesmo que acidentalmente (se quiser te mostro todo meu processo criminal e cível.

Depois daquele dia eu não dormi mais. Depois daquele dia, viver, pra mim, se tornou obrigação.

Eu não sei como se sente o dono do teu ódio, mas te digo com propriedade que se ele for como eu, dotado de sentimentos, de dores e do mínimo de entendimento do que é ter um filho, a tua vingança já é presente e equivalente à tua dor.

Veja, te digo isso como mãe.

Eu sou mãe.

E sou "assassina" aos olhos de outra mãe.

E meu sentimento é proporcional...

Amo incondicionalmente minha filha, odeio igualmente aquele dia e todos os outros que se seguiram depois dele.

Eu sofri e sofro até hoje por aquele dia.

Sofri por estar ali, sofri por mim, por ela e pela mãe dela.

Sofri por eu ser incapaz de mudar os fatos.

Sofri e sofro porque daria, sem sombra de dúvidas, a minha vida no lugar da dela, pois assim ela viveria (eu apenas sobrevivo).

Não quero retirar de você qualquer sentimento em relação àquele homem. Quero só que você saiba que se ele for capaz de sentir alguma coisa, ele já está pagando pelo acontecido.

Não quero colocar ninguém como vítima no lugar de réu.

Mas que o teu desejo dele colocar uma corda no pescoço e se pendurar numa árvore é menos válido do que ele continuar vivendo.

Eu desejei a morte todos os dias até minha filha ser concebida. E esse desejo é o que consome, o que acaba com a gente.

Garanto que ele tá pagando pelo que fez.

Se ele é culpado? Não sei, mas só sei que se ele sente, o sentimento dele tá fazendo ele pagar por tudo, tenha certeza.

Espero que tenha entendido o que eu quis te passar.

Te entendo como mãe... Juro que entendo!

Só quero que você consiga ver que não precisa de absolutamente desejo nenhum seu para que ele sofra: se ele é digno, ele já está.

Isso vai fazer com que você consiga transformar tua falta em saudade. E saudade não dói. Assim você não alimenta mais esse rancor que te consome e dá espaço somente pros sentimentos referentes à sua filha.

E é bem mais saudável...

Na verdade eu nem acho que você deva se colocar no lugar dele nesse momento, mesmo porque você vive uma fase de luto e seria anormal não ter um sentimento de revolta.

Acredite, eu que passei por isso na situação inversa não condeno jamais nem você e nem a mãe da ‘minha menina’ em me chamar de assassina, de pensar assim e de querer um culpado.

Independente de quem é a culpa, nós sobrevivemos e isso causa sim uma revolta.

Eu entendo perfeitamente a mãe dela querer me ver da pior maneira possível. Entendo a mãe dela me odiar.

Talvez não seja nem ódio por mim, mas por eu estar ali, por ter sido através de mim que ela foi separada da filha.

E eu acho válido esse sentimento, mesmo porque não acredito que sentimentos ruins sejam de todo mal assim...
Talvez seja melhor eu ser a culpada na visão dela do que ela mesma se culpar...

A justiça demorou 5 anos pra entrar com o pedido no Ministério Público pra investigar o meu acidente.

Não sei como está com você, só sei que essa demora dilacera a gente, pois nós, dos dois lados, queremos respostas e uma definição.

Fui processada civilmente pela família dela e, felizmente pra mim, ganhei a ação porque a quantia que me pediam era simplesmente absurda (em torno de 500 mil reais se fôssemos juntar as custas de advogado e indenização).

Infelizmente, nunca pude dar pra essa mãe sequer um telefonema dizendo que eu também sinto.

Fui proibida pelo meu advogado de entrar em contato com eles pois sofri ameaças.
Se ele é culpado, ele vai pagar por isso, tenha certeza.

Talvez não na justiça daqui, mas da própria consciência.

Independente dele estar em perfeitas condições, se houve um único erro, esse não vai deixar com que ele durma tranquilamente em nenhum outro dia da vida dele.

E pagar, assim, já é o pior dos castigos.

Concordo com você que corremos o risco de acidentes a todo momento.

Mas isso não tira nossa responsabilidade sobre isso.

Veja, eu to te falando como alguém que atropelou, não como alguém querendo ser vitima!

Eu me responsabilizei e acho que ele também deve.

Pra nós, a parte ruim da historia toda, faz até bem ter essa responsabilidade. Assim a gente tem o mínimo de consciência para atos futuros.

Independente de culpabilidade, é importante a gente ter responsabilidade.

Queria te deixar claro que se você resolver abrir um processo, tem todo o meu apoio.

Isso vai criar em você algumas feridas mas, ao mesmo tempo, talvez te traga algum conforto. Não em questão financeira, mas em questão de responsabilidade mesmo.

Também não acho que você vai ter que assimilar que foi um acidente porque a versão dele pode ser comprovada. É o que eu te disse, no meu caso, eu não estava bêbada, nem drogada, minha velocidade era de 77 km/h na BR onde o máximo era 80 km/h, meu carro era novo, estava chovendo, e ela atravessou em local errado a BR.

Se você for analisar pelo meu lado, eu penso que se alguém teve culpa, foi ela. Mas veja bem, ‘eu’ penso. Não precisa ninguém mais pensar...

Isso me conforta em saber que não fui imprudente.

Mas, para a família dela, eu sempre vou ser a assassina, a culpada.

E que mal há nisso?

Caso você se sentir mais confortada em pensar assim, também não vai haver mal algum.
Sinceramente, não acredito que a minha dor seja maior que a sua.

Deus que me perdoe, mas eu escolho passar por um acidente assim mais 20 vezes do que algo acontecer com a minha filha.

Como você disse, é muito recente.

Mas não se engane que as coisas passam...

Na verdade, a gente aprende a conviver com isso tudo. E você ainda não está na fase de aprendizado.

Continue expressando a tua dor, porque mesmo sem você imaginar, está ajudando pelo menos uma pessoa.

Eu me sinto ajudada por você.

E, por isso, só tenho a te agradecer."

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A 'PELINHA' DOS OLHOS

- Mãe, o que é a córnea que você doou quando a Tata morreu?

- Ah Ivy... Nos olhos da gente, existe uma ‘pelinha’ bem fininha que faz com que a gente enxergue. Quando a gente morre, ela não nos serve mais pra nada, mas pode ajudar uma ou duas pessoas a voltar a enxergar.

- Mas como que é?

Sabia que ela estava assuntando pra saber se haviam retirado os olhos da irmã dela ou não.

- Bom, levaram a Tata pra uma sala lá no hospital e retiraram, com todo cuidado, a ‘pelinha’ transparente que cobria os olhos dela. Depois, guardaram num lugar especial.

- E quem é que tá com a ‘pelinha’ da Tata?

- Isso a gente nunca vai saber, Ivy... E não importa! Existe uma lista de espera cheia de pessoas que não enxergam ou que enxergam quase nada. Os médicos olham a lista e vão chamando as pessoas conforme as doações são feitas.

- Legal!


Encerrou-se o assunto.

Como moramos na cidade onde está localizado um dos maiores Banco de Olhos do Brasil, vez ou outra acaba sendo divulgado algum comercial na televisão sobre o assunto.

Dia desses, quando uma mulher transplantada dava seu depoimento, ela me perguntou:

- Será que a pelinha da Tata tá no olho dessa mulher?

É lindo poder esclarecer e conscientizar uma criaturinha tão pequena.

A prova de que a franqueza funcionou foi o bilhetinho que encontrei hoje, escrito por ela como se fosse a Bianca, e que logo em seguida rabiscou por cima:





"Mãe

Obrigada por você doar a pelinha dos olhos.

Bjs

Bianca"

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

MAIS UM ANIVERSÁRIO


Mais um ano que não terei a quem dar parabéns neste dia.

Hoje, você faria 17 anos!

Nossa...

Minha filha com 17 anos!

Aquele abraço de aniversário, com um cheiro no pescoço e a gente imitando as palavras recorrentes que a bisa costuma dizer nessas datas, não acontecerá.

Saiba que meu amor se fortalece a cada dia, e que não há um só minuto que eu viva sem pensar em você.

Não há um só minuto, também, em que eu me conforme com isso tudo.

O Nícollas tem me dado trabalho e, por mais que eu saiba que um filho não é igual ao outro, gostaria que ele tivesse comigo a mesma relação que nós duas tínhamos.

Mas você sabe... Ele é um menino difícil...

Enfim, amor, não tenho tido muita vontade de escrever ultimamente.

E, revezando entre ‘surto e razão’, vou continuando o mecânico hábito de respirar!

Te amo...


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DOR INCURÁVEL


Cada dia mais, tenho sentido sua falta...

A dor da ausência é incurável.

Tenho aprendido que algumas coisas nunca mudam, que alguns sentimentos nunca voltam e que, outros, nunca serão esquecidos.

Pelo bem dos seus irmãos, deixei, para trás, alguns sonhos.

Regredi, praticamente, todo o caminho percorrido até então...

Por eles, e só por eles, faço qualquer esforço!

Mas, às vezes, me pergunto até quando vou me anular e deixar de viver coisas que me façam feliz.

Preciso encontrar forças pra voltar ao trabalho, porque vou enlouquecer ficando em casa como uma ‘mulherzinha de antigamente'.

Você sabe que nunca fui assim.

Mas o que a gente não sabe é como a vida muda depois da perda de um filho.

Como minha vida mudou depois de ter perdido você!

Outro dia, me coloquei a arrumar guarda-roupa e papelada porque, ‘caso eu morresse subitamente’, ninguém precisaria ficar xeretando minhas coisas. E, quando vou dormir, sempre deixo uma troca de roupa ‘ajeitada’ no canto do armário para qualquer emergência noturna.

Esforço-me para não transferir meus medos aos seus irmãos.

Certamente, eles já têm os próprios...

Minha concentração não anda boa, minha cabeça tem estado em nós.

Tá tudo tão esquisito que, além dos esquecimentos terem se tornado uma constante, outro dia não conseguia separar três reais em moedas pra pagar um negócio na quitanda.

Contei, recontei e desisti: troquei uma nota de cinco.

Em meio a tanta dor, sinto falta de amar de novo.

Sinto a imensa falta de um colo que me assegure que tudo vai ficar bem.

Quero que alguém me convença de que as coisas vão melhorar, que alguém me acolha e me deixe, ao menos por um tempo, sem as preocupações das coisas práticas da vida.

Eu preciso me descabelar em paz, sabe?

Tem coisas que quero te falar e não te tenho mais aqui.

Aí, ouço de um monte de gente que você pode me ouvir, mas isso não me basta.

Isso NÃO me basta!

Já quis morrer, e ainda quero às vezes...

Mas penso que, se isso acontecesse, a Ivy ficaria desesperada e, o Nícollas, se tornaria um perdido.

Aí, desisto! Eu os amo demais para morrer e deixar que outras pessoas se encarreguem de cuidar do que é meu.

Sempre fui assim...

O que é meu, é meu!

Enquanto não morro, não piro de vez e não fujo dessa droga de vida, vou tentando desempenhar meu papel como posso.

Mesmo com meu coração moído, te amo a cada minuto do meu dia!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

IMPOSTORES DA PSICOGRAFIA

“Meus queridos pais e irmãos:
Aqui me encontro na paz e no amor de Jesus.
Estou cada vez melhorando.
Não é fácil sair de uma vida e acordar em outra, mas, graças a Deus, estou vencendo as dificuldades que aqui encontrei.
Benfeitores amigos muito tem me auxiliado.
Peço a vocês maior aceitação, pois nada nos acontece por acaso. Tudo tem hora e momento certo.
Vamos esquecer o que me fez a volta para a nova vida.
Ainda necessito de cuidados , mas peço, confiem na Bondade de Deus. Tudo está bem, eu preciso da compreensão de todos, a vida continua.
A morte é apenas uma transformação em nossas vidas (estou viva, não pensem que estou longe. Estamos juntos nas preces que fazemos a Jesus).
Fiquem bem, volto outro dia.
Saudades são tantas que às vezes me sinto aí em seus braços.
Deus nos ampare a todos.
Aqui fica o coração dessa filha que tanto os ama sempre.
Beijos a todos.
Sua Bianca.”



Há algum tempo, comentei aqui sobre minha ida a um centro espírita.

Apenas comentei.

No impulso daqueles que duvidam, fiz uma busca no Google e encontrei uma relação de centros que atuam por aqui, ajudando ou enganando pessoas.

Queria encontrar um centro que tivesse um dia dedicado à psicografia.

Não estava buscando uma ‘carta’ da Bianca, mas já que era pra ir ao centro, que fosse pra matar minha curiosidade justamente num dia onde os trabalhos fossem dedicados a isso.

O primeiro centro que liguei, de cara, já ganhou 1000 pontos comigo.

A pessoa com quem falei, disse que, naquele centro, não existia psicografia, pois era muito difícil encontrar um médium que tivesse tal dom e que fizesse um trabalho sério.

Ponto pela franqueza!

No segundo centro, a pessoa informou que as sessões de psicografia aconteciam ali uma vez por mês.

Não só aconteciam uma vez por mês, como também haveria uma dessas dentro de três dias.

Não perderia isso por nada!

Me pediram pra fazer uma ‘refeição leve’ no dia anterior e levar o atestado de óbito da Bianca pra preencher uma ‘ficha’ com seus dados na recepção.

Me senti insultada...

Ficha?

Atestado de óbito?

Peraí!

Se o centro espírita possui médiuns capazes de transcrever mensagens de um morto, por que diabos precisam de uma ficha com tais informações?

Pois agora é que eu não perderia isso!

Cheguei ao centro no horário marcado e me surpreendi com o que vi.

Era um salão de tamanho razoável que abrigava, além das 80 cadeiras (eu acho) designadas aos pobres coitados que buscavam conforto através de uma carta de seus mortos, uma mesa enorme rodeada por 14 cadeiras.

Estas eram as cadeiras dos ‘médiuns’.

Para tudoooooo!

Como é que num centro a pessoa diz que é raro encontrar um médium sério que faça psicografia e, no outro, dou de cara com uma ninhada deles?

Alguém estava mentindo.

Não preciso dizer que fiquei sentada quase no colo de um deles, né?

Sobre aquela mesa enorme, várias folhas em branco, canetas, lápis, borrachas e copos com água.

No ambiente, aquela musiquinha instrumental irritante que dizem nos fazer relaxar.

Depois de algum bla bla bla dito por um senhor sobre o ‘pai nosso’ ensinado pela igreja católica, entraram naquele espaço os ‘14 gênios manipuladores do sentimento alheio’ e donos das cadeiras em torno daquela mesa.

Sentaram-se.

Cada uma dessas 14 pessoas tinha em mãos um montinho daquelas fichas preenchidas na recepção.

E como numa brincadeira de esconde-esconde, no típico ‘1, 2, 3, lá vou eu’, eles começaram a escrever.

Pegavam uma ficha, liam os dados do morto e escreviam a carta.

Eles ainda tinham uma chance de conquistar minha credibilidade: eu precisava sair dali sem receber carta nenhuma.

Aquela cena estava indo contra tudo o que eu havia lido a respeito.

Havia acabado de completar 1 ano do ‘desencarne’ da Bianca, e qualquer ‘espírita realmente espírita’ teria dito: “É cedo demais pra uma comunicação”.

Enquanto eles escreviam, eu esticava o pescoço pra ter a certeza da fraude cometida ali.

Depois de horas escrevendo, uma senhora finaliza os ‘trabalhos’ entregando uma carta a cada um dos presentes.

Isso mesmo!

TODOS que ali estavam, receberam uma mensagem denominada CARTA PSICOGRAFADA.

Ali estavam pessoas que carregam a dor do luto, da tristeza e da saudade, e muitas saíram daquele lugar com a certeza de que conseguiram um contato com seus entes.

Alguns podem dizer que eles, de certa forma, saíram do centro confortados pelas palavras consoladoras das cartas.

Eu, particularmente, não creio que as pessoas tenham o direito de tripudiar diante da fé de ninguém.

As pessoas que estavam ali esperavam, sim, receber um acalento.

Mas quando isso é feito de forma impostora, os responsáveis deveriam receber uma punição.

Sei que algumas pessoas vão me dizer pra não generalizar, e não é isso que estou fazendo.

Por isso, podem me poupar dos sermões!





domingo, 29 de julho de 2012

DOUGLAS OLIVEIRA


Douglas Oliveira, 22 anos.

Este a Bianca conhecia bem.

Acidente de moto.

Mais um que se foi bestamente.

Mais um que era amigo da Bianca e dos amigos da Bianca também.

Sabe o que parece?

Que tá havendo um extermínio de jovens...

Não quero mais meus meninos andando de moto! Não quero!

Que a mãe do Douglas consiga passar por essa perda, pois sei que foi um acidente muito traumatizante!



"Mais um lindo pra te fazer companhia, minha flor"







sexta-feira, 27 de julho de 2012

NÃO FOI ACIDENTE.ORG


O que diz o Projeto de Lei ?

PROJETO DE LEI DE INICIATIVA POPULAR SOBRE CRIMES DE TRÂNSITO QUE ENVOLVAM A EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

A embriaguez ao volante passa a ser somente ilícito penal e não mais ilícito administrativo;
O procedimento administrativo foi incorporado às infrações penais;
Eliminação do enquadramento à lesão corporal culposa;
Aumento da pena, a obrigatoriedade da submissão ao exame clínico e a formalização de obtenção de provas de embriaguez;
Eliminação do mínimo de concentração de 6 (seis) decigramas.

Para conhecer o projeto completo, clique AQUI.

De forma simplificada, o que vocês buscam com este projeto?

Este projeto acaba com a infração administrativa (multa) para quem dirige embriagado. Desta forma, a embriaguez ao volante passa a ser somente ilícito penal (crime). Tem por objetivo principal a tolerância ZERO para direção e embriaguez.

Para tanto, pretende a alteração das penas para quem dirige embriagado (de 1 a 3 anos de prisão) e para quem mata no trânsito por estar dirigindo embriagado (de 5 a 8 anos de prisão).

Permite que o exame clínico, feito pelo médico, possa servir de prova para comprovar a embriaguez do condutor, sem a necessidade do bafômetro ou exame de sangue.

Nas palavras do Dr. Maurício Januzzi, presidente da comissão de trânsito da OAB-SP e autor do projeto:

“A política de tolerência ZERO que o nosso projeto preconiza é no sentido de que aquele que for flagrado dirigindo com qualquer quantidade de álcool por litro de sangue estará sujeito a responder por CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (Artigo 306 do CTB). O projeto propõe que não haverá mais infração administrativa (artigo 165 do CTB) no que tange a embrigauez ao volante. Hoje não existe tolerância ZERO. O que ocorre hoje é uma tolerência a embriaguez ao volante, isto porque a infração administrativa (artigo 165 do CTB) se dá quando comprovado a embriguez de 0,2 dg/l até 0,6 dg/l , ou seja, multa de natureza grave, 7 pontos na carteira e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Já, se comprovado que o indivíduo está embrigado acima de 0,6 dg/l, ele estará sujeito a responder pelo crime de embrigauez ao volante (artigo 306 do CTB)”.

Qualquer pessoa pode assinar a petição?

Não. Para que a sua assinatura seja válida é fundamental que você tenha título de eleitor. Isto é necessário, pois não se trata de um abaixo-assinado e sim de uma petição pública, único instrumento popular de participação com força no Congresso Nacional. No Brasil, a iniciativa popular para a proposição de projetos de leis é um direito constitucional.



Não importa se o assassino da Bianca estava bêbado ou não.

O que importa é que, se a gente pode fazer algo para melhorar, por que cruzarmos os braços?

Não basta curtir a página no facebook!

Tem que entrar no site e ASSINAR

Não lembra do número do seu título de eleitor?

Sem problemas...

Entre AQUI e encontre!

Não se esqueçam que TODOS NÓS andamos por aí, de forma que também estamos expostos à imbecilidade e irresponsabilidade alheia no trânsito.

O blog da Bianca tem 219 seguidores, e eu gostaria que TODOS os 'seguidores-eleitores', tivessem a consciência de assinar isso.


Conto com vocês!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

MAIS UM SONHO CONTIGO


Sonhei com você esta noite.

Toda a família estava reunida numa casa de praia, inclusive a bisa e o nono.

Estávamos ali para velar você.

Seu velório acontecia na garagem da tal casa, e já estávamos no quarto dia ali ao seu lado (imagine!).

Em determinado momento, eu, sabendo que já era hora de te levarem dali, falei que queria ficar sozinha ao seu lado por alguns instantes.

E fui.

Não era um velório convencional...

As pessoas que ali estavam, realmente aproveitavam a praia e tocavam a vida como se não existisse um velório na casa.

Me aproximei do caixão e, em choque, observei que seus braços estavam levantados e, suas mãos, abertas.

Não estavam junto ao corpo como da última vez que eu a tinha visto.

Cheguei perto, toquei sua mão direita e você, mesmo fria, esboçou um movimento com os dedos.

Fiquei histérica de felicidade!

Gritava como louca: “Ela não está morta! Não está morta!”

Foi quando você abriu os olhos e se sentou no caixão, dizendo que precisava de um banho e que não sabia o motivo de estar ali.

Expliquei que era a segunda vez que você morria, mas você dizia que nunca esteve morta, mas que sofria de catalepsia, e esta era a razão pelo qual velório tinha que ser tão longo, pois em algum momento terminaria seu estado letárgico.

Você estava feliz, eu estava feliz...

Depois que você tomou banho e vestiu uma roupinha de calor, perguntei onde você havia colocado minhas roupas que vestiam você no caixão (sim, ela foi enterrada com roupas minhas).

Peguei você no colo como se fosse um bebê!

Você ria, tinha cabelos novamente e a gente dizia que se amava.

O Nícollas, na dele, como sempre, vibrou com a notícia de você estava ali novamente.

Disse uma palavra de alívio quando contei, mas não consigo lembrar qual foi. Só sei que foi uma única palavra.

O nono chorou.

A vó Dette ficou maluca!

A Ivy, você pegou no colo e apertou com saudade.

Acordei num misto de alegria pelos minutos do sonho que tive, e ódio, por saber que não era real.

Já acordada, aqui na sala, a Ivy desceu as escadas e me deu um abraço e um beijo de ‘bom dia’, como todos os dias.

Falei pra ela:


- Sonhei com a Tata hoje, e ela estava viva!


E, para minha surpresa, pois a Ivy nunca se lembra dos sonhos, ela respondeu:


- Nossa! Eu também sonhei, mas não lembro direito... Sonhei um monte de coisas com a Tata, só sei que ela falou comigo, mas não lembro o que...



“Até seu cheiro senti, minha amada...
O toque do seu rosto no meu na hora do nosso abraço...
Sua alegria por estar entre nós novamente!”

domingo, 22 de julho de 2012

NOSSO DIVÓRCIO E VOCÊ


Bianca morreu em 01/03/11.

Em 01/03/10, exatamente um ano antes, eu e o pai dela assinávamos nossa separação.

Separação sofrida onde ela, por ser a filha mais velha, a mais madura e a que opinava com convicção sobre o assunto, pagou caro pelo seu posicionamento.

Nunca falei disso aqui, mas hoje deu vontade de contar como ela vinha se sentindo ultimamente.

Foi uma decisão tomada por mim, após muito pensar, e pensar e pensar...

Os pormenores da história não cabem aqui por decisão pessoal.

Antes de falar com o pai, falei com as crianças sobre minha decisão.

O Nícollas, na época com 10 anos, deixou escapar uma lágrima.

A Bianca aceitou de ‘bate pronto’, sem maiores dramalhões.

Expliquei que, apesar de não estar mais casada com o pai deles, pouca coisa mudaria, porque eles continuariam a tê-lo presente em todos os momentos, como sempre o tiveram.

Sem contar que, sendo a imensa maioria dos amiguinhos deles, filhos de pais separados, ficou mais fácil assimilar.

Essa era minha concepção de separação: amigável, sem brigas e tendo os filhos como prioridade.

Cada indivíduo possui versão própria para a mesma história, portanto, não quero aqui dizer que um ou outro teve ou deixou de ter razão.

Cada um, seja qual for a situação, tem lá suas razões para agir como agem...

Ele não aceitou, não entendeu como as coisas chegaram a tal ponto e isso tornou tudo muito mais difícil.

Tenho, pra mim, que ninguém se casa pensando em separação. Mas, também, que o velho bordão do ‘felizes para sempre’ deveria ser substituído por ‘felizes enquanto houver amor’.

A cabeça das pessoas funciona de formas diversas, e o que parece certo pra mim, pode não parecer pra você.

Foi mais ou menos isso que aconteceu.

Não me casei na igreja e não fiz nenhum daqueles juramentos diante de um padre, mas nem por isso me casei sentindo menos amor.

Estava com ele havia dois anos e casei grávida da Bianca.

O amei, com todo o amor desse mundo, durante os 13 anos de casamento, mas, em algum momento, colei alguns pedaços que antes me pareciam isolados dentro da nossa relação e comecei a questionar nossa história.

Fiz isso calada.

Ponderei.

Decidi.

Pedi a separação e, a partir desse momento, nossas vidas se tornou um verdadeiro inferno.

Nunca duvidei do amor dele por mim, porém, já não podia acreditar no meu por ele.

Como nenhuma relação se mantém com a disponibilidade de apenas uma das partes, depois de muitas discussões, ofensas e brigas, nos separamos.

Exatamente um ano antes da Bianca ser morta.

Ela teve um ‘último ano de vida’ tumultuado por estar em meio a um tiroteio ridículo de acusações e baixarias.

Pagou por caro por entender o meu lado e o lado dele e, mais ainda, por não ter o reconhecimento dele de que ela já era capaz de discernir sobre o assunto.

Conviveu com a indiferença dele por achar que ela tomava meu partido nessa questão.

Indiferença que a fez sofrer demais, pois tudo o que ela queria na vida era que ele compreendesse que ela não estava do lado de nenhum de nós e, ao mesmo tempo, ao lado de nós dois.

Todos os dias, várias vezes por dia, quando nos falávamos por telefone, ela se queixava dele.

Enquanto eu morria de beijar e abraçar meus filhos quando chegava do trabalho, ele, por infinitas vezes, nem na cara dela olhava.

Foi um período tão difícil pra ela que, muitas vezes, ela me dizia que preferia que ele morresse de uma vez por todas.

Falava isso não por odiá-lo.

Falava por não suportar viver com a indiferença de um pai que ela tanto amava.

Cada tentativa minha de conversar com ele, terminava em briga.

Numa dessas vezes, disse a ele que não importava quanta raiva ele sentia de mim, e que por mais que ele dissesse nunca mais querer falar comigo na vida, tínhamos três filhos em comum, e que esse era um laço indissolúvel.

Ainda assim, ele mantinha sua posição.

Foi quando perguntei, com ironia:


- Ah, tá! Você não vai falar comigo mesmo que uma das crianças fique doente?

- Não.

- Mesmo se, um dia, um deles estiver morrendo num hospital?

-Não.



Pois bem.

A vida deu suas voltas e nos colocou nessa situação.

Embora seu último final de semana de vida tenha sido entre nós, família, e tenha sido até certo ponto agradável entre ela e o pai, eu, como uma de suas confidentes, sei o que se passava naquele coração.

E quando estávamos no corredor do hospital, eu e o pai ela, pude ter, simultaneamente, a visão dele sentado na cadeira chorando e, logo mais ao fundo da sala de emergência, minha filha tendo a cabeça raspada para a cirurgia.

Não chorei uma lágrima sequer.

Olhei pra ele e perguntei se ele estava lembrado do que me respondeu quando perguntei sobre conversarmos caso um filho nosso estivesse morrendo num hospital.

Aquela era a HIPÓTESE transformada em REALIDADE.

E tive vontade de chutar a cara dele, até matá-lo, por todas as vezes que ele saiu ou chegou em casa sem ao menos olhar na cara dela.

Sem beijá-la.

Sem abraçá-la.

Eu já sabia ali, após ter falado com o médico e de ter estado ao lado da minha filha naquela emergência, que ele NUNCA MAIS poderia fazer o que não havia feito até aquele momento.

Sabia, também, que a dor dele seria diferente da minha pelo resto da vida.
Nem maior, nem menor.

Apenas diferente.

Após o enterro, fiquei em São Caetano com as crianças, pois achei que voltar pra Sorocaba, no calor dos acontecimentos, não seria bom nem pra mim, nem pra eles.

A Bianca foi atropelada na calçada onde fica minha casa, só que algumas casas rua acima.

O Nícollas presenciou parte do socorro, e por mais que ela não apresentasse ferimentos externos, tenho certeza que a imagem da irmã agonizando naquela calçada o atormenta todos os dias (embora ele ainda não fale sobre o assunto).

O pai dela voltou pra Sorocaba logo após o enterro.

Me senti indignada por isso.

Minha vontade era de morrer junto com a Bianca, tomar um monte de remédios, fechar a porta do quarto e não falar com ninguém.

Mas não havia, ali, somente a minha dor.

Havia a dor de um irmão que a amava demais e a de outra pequenina que a tinha como segunda mãe.

Então, aos que se decepcionaram por não terem presenciado um escândalo no velório, volto a dizer que minha força era, também, para preservar um pouco a Ivy e o Nícollas.

Eu tinha que estar inteira, ou fingir estar, porque estava SOZINHA com eles.

O tempo foi passando, a hostilidade entre o Nícollas e o pai dele começou a voltar com força e foi quando eu pensei: “E se eu morrer, como eles vão ficar”?

Ao mesmo tempo, tive aquele sonho com a Bianca, onde ela pedia que eu voltasse pra casa, pois aqui era meu lugar.

Voltei pra casa.

Voltei porque acredito em alguns sonhos, e este foi muito forte pra mim.

Minha separação foi revertida para divórcio após a morte da Bi.

Não me arrependo disso, pois foi um processo infinitamente estressante e doloroso, mas não foi impensado.

Quando voltei pra minha casa, minha intenção maior era de aproximar pai e filho novamente.

Hoje, posso dizer que a relação deles melhorou muito, embora algumas coisas não mudem nunca.

As pessoas são como são, e não me excluo disso não!

Não sou uma pessoa fácil de lidar. Reconheço.

Mas meus filhos são muito mais importantes que eu, e a felicidade deles vale qualquer sacrifício!

À medida que o tempo foi passando, me dei conta de que todas as pessoas que sofreram por essa perda, embora ainda sentissem dor e tristeza, estavam vivendo suas vidas, e muitas delas começavam a me dizer que eu precisava reagir, precisava voltar a trabalhar, precisava acreditar que ela estava viva em outro plano...

Precisava... Precisava... Precisava...

Concluí que a única pessoa capaz de entender o que eu sentia, era a única pessoa que estava sofrendo tanto quanto eu: o pai dela.

Por esta razão, e pelo bem das crianças (que já se mostravam prontas pra voltar), baixei a guarda, voltei pra casa e estou tentando olhar pra ele e encontrar um pouco do que me fez amá-lo tanto.

Ele tem sido um bom ombro, um ótimo amigo, mas algumas coisas ainda não mudaram dentro de mim.

Não estou preocupada em ‘estar perdendo tempo na vida’, como muita gente já me falou.
Estou vivendo um período de tentativas.

Ainda olho pra ele, embora sabendo da dor que sente, e tenho vontade de esbofeteá-lo, até desmaiar, pelas coisas que fez nossa filha sentir, pelas lágrimas que a fez chorar e pelo crédito que não deu à sua capacidade de entendimento.

Sei, também, que não preciso apontar o dedo pra ele, assim como sei que também não fui uma mãe perfeita.

Ninguém é perfeito.

Tanto sei disso, que ainda sinto ódio quando me lembro de certas coisas.

Sou humana.

Mais que isso, sou mãe.

E fui mãe de uma criatura extremamente adorável, que sofreu muito pela imaturidade emocional do pai e que, infelizmente, nunca poderá contar isso como uma história que tenha ficado no passado.

Ela morreu magoada, e isso me mata.

Procuro não ficar remoendo, mas nem sempre posso evitar.

Eu e o pai dela estamos vivendo juntos de novo.

Sei que o amor que ele sente por mim é imenso, mas ainda não sou capaz de retribuí-lo da mesma maneira.

Estou tentando ser uma boa companhia, criando meus filhos ao lado de um pai mais consciente e mais cuidadoso.

Espero que o Nícollas e a Ivy cresçam sem mágoas no coração, sejam grandes pessoas e que possam ter, futuramente, boas recordações desse ‘novo mesmo’ pai que estou tentando fazer com que tenham.

Quanto a mim, se a Bianca pediu pra que eu ficasse em casa, é assim que vai ser.

Meus filhos precisam crescer mentalmente saudáveis, depois eu penso em mim!



Bi, fiquei impressionada com a veracidade com que você abria seu coração pra Laura e pro Matheus Jr. sobre isso tudo que escrevi.
Falamos sobre isso algumas vezes, e eles reproduziram diversas vezes algumas frases suas...
Isso só me fez ter a certeza de que você sempre foi uma menina de ouro, em simpatia e honestidade.
Te amo por isso...










quarta-feira, 20 de junho de 2012

SABENDO UM POUCO DA VIDA DELE



Domingo passado fui ao cemitério pela segunda vez em pouco mais de um ano.
É muito revoltante imaginar que você está ali embaixo.
Reafirmei minhas promessas a você e saí logo dali.




Na sexta-feira anterior, passei em frente a casa onde teu assassino morava.
Claro que sei que ele foi embora daquela casa logo depois do que aconteceu, mas tinha uma senhorinha parada no portão e não resisti.
Nunca vi aquele portão aberto, então, me senti no direito de falar com ela.
E fui.
Não me apresentei no início, apenas perguntei se o Jair se encontrava na casa.
Ela, mesmo sem saber quem eu era, e sem saber que eu já sabia que ele não estava, começou a me contar coisas.
Uma senhorinha com aparência cansada, comportamento de quem viveu num sítio a vida toda, extremamente humilde e sem maldade no coração.
Desembestou a falar.
O que eu, mãe da Bianca, sei sobre o cara que a matou, além do pouco que postei aqui?
Nada!
Pois, eu e a senhorinha, conversamos por longo tempo naquele portão:

- Não, filha, o Jair não mora mais aqui desde que aconteceu aquilo.

- Aquilo o que?

- Desde que ele matou a menina lá de cima.

- Ah, sim... E a senhora é parente dele?

- Não, ele morava lá nos fundos, assim eu não ficava sozinha aqui. Ele era amigo dos meus filhos desde menino. Depois que ele matou a menina lá de cima, foi embora porque ficou com medo.

Não achei honesto não me identificar, então falei:

- A senhora tá me contando coisas... A senhora me conhece? Já me viu por aqui?

- Não, 'fia'.

- Meu nome é Gabriela, e sou a mãe daquela menina que o Jair matou. Aquela menina se chamava Bianca, e este era o rosto lindo que ela tinha (mostrei a foto no meu celular).


Ela levou as mãos ao rosto, soltou um "meu Deus do céu", um "minha Nossa Senhora" e um "que tristeza isso".
Continuamos a conversar por um bom tempo depois disso, mas agora ela sabia com quem estava falando.
Disse a ela que eu já sabia que ele não estava lá quando puxei conversa, mas que queria saber um pouco sobre ele, já que ninguém nessa merda de lugar parece saber de porra nenhuma.
Perguntei se ele bebia e ela disse:

- Beber, ele não bebia não senhora. Eles são de família de bem, mas o Jair sempre teve uns 'probleminhas de cabeça'...

- Como assim?

- Ah, não sei explicar direito não senhora, mas às vezes ele tava bem e, de repente, dava uns ataques nele. 'Problema de cabeça', a senhora sabe como é, né?

- Não, não sei. A senhora sabe dizer se ele tomava algum remédio pra isso?

- Sei não. Mas ele tinha uma mania esquisita com leite. Naquele dia, ele tinha saído pra comprar leite. Pra ele, podia ter a comida que fosse, mas ele tinha uma cisma com leite! Se não tivesse a quantidade que ele achasse suficiente, parecia que tava passando fome. Falaram pra ele não sair pra comprar, que não precisava, mas ele saiu daqui feito um louco, pegou o carro e foi. Na volta, aconteceu o que aconteceu.

- A senhora sabe se naquele dia ele estava com aquele 'probleminha de cabeça'?

- Sei não, fia... Eu mesma só fiquei sabendo que tinha sido ele que tinha matado a menina três dias depois, porque uma vizinha veio me contar.

Bom, aquilo não era um interrogatório. Ela me contou coisas sobre a vida dela, contou que entraram na casa e quebraram tudo uns dias depois e que ela estava sozinha à noite, morrendo de medo que fosse assalto...
Disse que os pais do desgraçado fizeram a mudança dele aos poucos, com o carro da mãe dele.
Comentamos sobre a mãe, irmãos e pai dele. E, pra minha surpresa, quando falei que o pai dele era novo, ela me disse:

- É fia, ele era novo sim, mas ele morreu uns tempos depois daquilo.

- Ele era doente? - perguntei

- Não, não tinha doença não. Deve ter morrido 'dos nervos'. Fiquei sabendo que ele tava sentado, o corpo foi caindo pra frente e, quando acudiram, já tava morto. Morreu foi de desgosto mesmo do que o Jair fez, de ter matado a menina.

- É, pra senhora ver... Se foi isso mesmo, ele acabou matando duas pessoas. Queria que fosse ele no lugar do pai, porque o pai, a mãe, a filha, nenhum deles teve culpa, né?

- Verdade, 'fia'...

E, assim, 'assuntei' sobre seu algoz.
Há quem diga que havia uma mulher e uma criança com você no ponto de ônibus aquele dia.
Pessoas estas que, se realmente estavam ali, tiveram a sorte de escapar com vida, mas que não tiveram a coragem e a humanidade de me procurar para contar o lado da história que nunca vou saber.





"Amor, não quero que se aborreça com minha tristeza.
Se é verdade essa ladainha de que quanto mais tristes ficamos, mais triste você ficará 'do outro lado' (se é que esse outro lado realmente existe...), trate de aprender a me ignorar, porque eu não consigo passar um dia da minha desgraçada vida sem chorar por você.
Nossa ligação era como um 'nó de marinheiro', por isso não consigo desatar essa dor que me bota no chão.
Te amo um amor que não cabe mais em mim..."

quarta-feira, 23 de maio de 2012

QUEM FISCALIZA?

Então...
Da minha casa até a escola da Ivy, passo a pé por quatro ruas.
Em todas elas, carros estacionados em cima das calçadas e pedestres andando nas ruas.









A calçada não é local para veículos estacionados.
Além disso, quando um veículo está estacionado sobre a calçada ou passeio, atrapalha a circulação dos pedestres.
A palavra calçada, conforme Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro, possui o significado de parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, NÃO DESTINADA À CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins. Importante também ressaltar o significado da palavra passeio, definida como PARTE DA CALÇADA ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas. Portanto, os passeios devem ficar livres de obstáculos para a passagem dos pedestres e nas calçadas pode ser colocado mobiliário urbano, sinalização, etc.
O veículo estacionado na calçada pela falta de consciência do motorista, representa uma afronta à segurança do pedestre, que perde a calçada para caminhar e fica vulnerável com a entrada e saída dos carros parados no recuo.

(MITOS E VERDADES)








segunda-feira, 21 de maio de 2012

CÉU COR-DE-ROSA


Como são as coisas...

As postagens no blog têm se tornado mais espaçadas, menos frequentes...

Acreditem, ou não, sou cobrada por isso através de emails!

O blog não é uma coluna semanal, e que isso valha aos que ficam ansiosos por novos textos.

Sabe, o luto é uma coisa estranha...

Estranha porque é uma fase sem receita mágica, uma fase onde as coisas funcionam individualmente e em que as pessoas, cada uma a seu modo, tentam ajudar com bons conselhos da maneira que podem ou sabem.

A verdade é que, por mais que os conselhos sejam bacanas (e são!), pra mim ainda são impraticáveis.

Depois que fui à psiquiatra, saí de lá com duas receitas nas mãos: um antidepressivo e um ansiolítico.

Concordei em consultar uma psiquiatra unicamente com a finalidade de solucionar a questão da insônia, que me atormenta desde a morte da Bianca.

Quando entrei no consultório, contei rapidamente o que me levara até ali, e já me adiantei em dizer que sou uma pessoa resistente a tomar medicamentos.

Detesto tomar qualquer coisa pra qualquer tipo de dor, a menos que seja muito, mas muito, muito enormemente necessário.

Disse, também, para que nem tentasse me convencer a fazer terapia, pois isso não traria minha filha de volta.

Bem, a médica, por fim, após concordar que minha situação era delicada, me perguntou se eu tinha religião.

Pronto! Era só o que me faltava!

Pensei: Bom, se uma psiquiatra chega ao ponto de começar a questionar sobre religião com uma paciente que não está numa sessão de terapia, é porque sou um caso perdido mesmo!

Diante da minha negativa, ela deu a última cartada:

“Mas você acredita em Deus, ?"

Sabendo que a desapontaria, respirei fundo e disse a ela que não, mas que esse era um assunto do qual eu não tinha a menor pretensão em discutir, pois meu único intuito era o de sair daquele consultório com a certeza de que teria de volta, ao menos, as minhas sagradas noites de sono.

E assim foi.

Ela me receitou um antidepressivo de baixa dosagem, e disse que aumentaria se fosse necessário a partir dar próximas consultas.

Fiquei me perguntando o que um comprimido de medicação antidepressiva seria capaz de fazer por mim...

Após as três semanas que ela disse demorar para que eu começasse a sentir o efeito do remédio, a única coisa que mudou em mim foi a diarréia constante que passei a ter.

Sinceramente, não sei responder se antidepressivos funcionam de fato num caso como o meu, e também não vou saber, porque parei de tomá-los!

Agora, sobre minhas noites insones, essas são metralhadas pelo clonazepan.

Durmo bem, acordo bem.

É bem aquela coisa: remédio só é bom quando a gente realmente precisa!

Continuo odiando ter que tomá-lo, mas, por hora, este tem sido muito necessário sim.

Voltando à questão do luto, hoje, me sinto infinitamente pior que no ano passado.

O impacto da perda da Bianca na vida de cada um aqui de casa, se mostra dia após dia.

Um chora, outro finge que é forte e consola, outro enfatiza a agressividade verbal, e assim temos levado nossas vidas.

A Ivy, por incrível que pareça, é a única que, verdadeiramente, mostra superação honesta diante da perda.

Ela tem raríssimos episódios de choro, fala da irmã com amor, saudade e conformismo.

A Bianca só deixou marcas positivas na pequena vida da irmãzinha que ela tanto amou!

Anteontem, no final da tarde, o céu estava meio cor de rosa.

Falei pra Ivy que a Tata havia pintado o céu só pra que a gente olhasse pra ele e lembrasse dela naquela hora.

Ela concordou comigo.

Perguntei se ela realmente acreditava naquilo, e ela, seguramente, me respondeu que sim...

Isso mostra que, apesar dos meus questionamentos e minha revolta, em momento algum tentei envenenar meus filhos para que pensassem ou agissem como eu diante dessa situação.


terça-feira, 1 de maio de 2012

DE MÃOS DADAS COM OS REMÉDIOS

Pouco mais de um mês que não escrevo. Mesmo tempo em que tenho tomado a medicação que a psiquiatra receitou. Não sei dizer qual o efeito real do antidepressivo em mim, a não ser me fazer ir ao banheiro várias vezes por dia. Continuo triste, arrasada, desesperada e tudo o mais que se possa pensar. Mas tenho dormido bem, graças ao outro remedinho que ela me mandou tomar. Ao menos, agora, durmo noites inteiras e consigo acordar sem dor do corpo. Tentei algumas noites sem remédio, mas não tem jeito: revivo a morte e cada instante daquele dia, até que chega a hora do dia nascer. Não tenho mais muita vontade de falar sobre a Bianca com algumas pessoas, porque percebi que a única dor que não passa é a dor de mãe, e que a maioria das pessoas não entendem isso. To cheia de ouvir conselhos do tipo : “Pense nos que ficaram, você ainda tem dois filhos lindos que precisam de você!”. Porra, e eu não sei disso? Por que diabos acham que ainda não de um tiro no cara e outro na minha própria cabeça? Ouço coisas que beiram o absurdo... Tenho um primo que é pastor de sei lá qual igreja. Outro dia, veio aqui em casa e, entre uma porção de coisas que ele acredita, disse que um filho que é ‘recolhido por Deus’, é motivo de alegria, nunca de tristeza... Perguntei se ele realmente pensaria assim caso um filho dele morresse como a Bianca morreu. E, para minha surpresa, ele disse que se um filho dele morresse, ele se sentiria honrado por ter um filho dele ao lado de Deus. Chegou a falar, sem saber que eu estava ouvindo, que a Bianca morreu para que começasse a crer em Deus. Aí é que eu digo que as pessoas que tem fé, não respeitam, VERDADEIRAMENTE, aquelas que não a tem. E foda-se ele também... Se um filho dele morrer, não teremos velório. Teremos festa num buffet! Mas espero não viver pra ver uma merda dessas, meus priminhos são crianças lindas, maravilhosas e especiais... No mais, fui a um centro espírita outro dia... Mas isso eu conto depois!

quarta-feira, 21 de março de 2012

ADOTADAS PELO BLOG



Hoje vou falar de coisas boas... Prometo não resmungar!
Pouco depois da Bianca falecer, muita coisa apareceu na internet.
Amigas postando em fotolog, homenagens no orkut, desabafos, etc...
Minha irmã, absolutamente absorvida por esse universo, um dia me mandou um email perguntando quem era Renata Ikedo.

Renata Ikedo? Sei lá quem é Renata Ikedo!

Tentei lembrar de alguma amiga japa da Bianca... Nada! Nenhuma ocorrência!
Por fim, minha irmã me enviou um link do fotolog dessa menina, onde, em determinado momento, ela descia o pau na própria mãe e falava bem de mim:

"Não tenho mãe. Sabe-se lá os motivos da vida, desde que me conheço por gente nunca recebi o afeto da mulher que me pôs no mundo. Sem drama, implorei muitos beijos, abraços e carinhos... Mas com o tempo percebi que isso não se pede!
A Dona Márcia (mãe dela) deveria ter como exemplo a mãe da Bianca Calegari. Que mãe é essa? Leio o blog dela: www.minhabianca.blogspot.com, é lindo ver a relação das duas relatada pela mãe que foi abatida depois que assassinaram sua filha..."

Como essa vida é...
O que falta à algumas pessoas, sobra à outras. E vice-versa. E 'versa-vice'!
A Renata não conhecia a Bianca, não me conhecia, não se lembra como veio parar no blog e nem como soube do ocorrido.
Mora num bairro próximo ao meu, passamos a nos falar pela internet, nos 'adotamos' como 'mãe e filha' e, de quebra, me trouxe mais uma querida chamada Mariana.
Duas amadas que, ontem, vieram finalmente me visitar e me conhecer.
Quero dizer que AMEI recebê-las aqui em casa e que podem voltar sempre que quiserem ouvir alguns outros péssimos conselhos que mães não devem das às suas filhas (nem às dos outros)...rsrsrs

BEIJOS

segunda-feira, 12 de março de 2012

'PSIQUIATREI'


Não tenho andado bem ultimamente.
Sempre achei que depressão fosse doença só para pessoas 'com tempo' pra isso.
Acho que todo mundo já pensou assim em algum momento da vida.
Pois bem...
Eis que toda minha dor da alma resolveu tomar conta do corpo também, como se tivesse o direito de se apoderar das minhas costas, cabeça, sono, apetite, concentração, memória, etc.
Fui à psiquiatra e, embora recuse a idéia de fazer terapia, não recusei a ajuda medicamentosa para a depressão.
Sou daquelas que resistem à dipirona em plena dor de cabeça e ao buscopan no auge da cólica, mas estou no fundo do poço e não posso me dar ao luxo de continuar sem, ao menos, dormir uma noite inteira.
Diz a médica que o efeito do antidepressivo começa, aproximadamente, em três semanas.
Me pergunto quais serão esses efeitos...


"Gostaria de bater a cabeça bem forte, como naquele sonho que você teve comigo. Que essa batida me tirasse a memória e tudo o que fosse capaz de me fazer lembrar do teu rosto, da tua voz e do nosso amor... Só isso seria capaz de fazer com que o sofrimento que carrego, saísse de mim."

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UM ANO SEM VOCÊ


Um ano do seu atropelamento.
Para mim, não importa que seu coração tenha parado de bater na manhã do dia seguinte.
Na minha concepção, você morreu em 28 de fevereiro de 2011, as 17:05h, no exato momento em foi jogada ao chão e perdeu, para sempre, a consciência.
Naquele dia, deixei o almoço pronto como em todos os outros dias e fui trabalhar.
Você disse que não ia comer, porque nós duas iríamos ao Mc Donald's depois de comprarmos seu tênis.
Não adianta tentar fazer com que seja diferente, pois todos os dias, desde aquele dia, me lembro de cada minuto, de cada sensação, de cada tudo!
Liguei pra você as 17:00h perguntando se já estava pronta pra sair de casa e me encontrar no centro.
Você, toda animada, disse que sim e que já estava saindo de casa.
Nos despedimos com nosso famoso "beijo-tchau", o mesmo bordão que eu usava pra te interromper ao telefone quando você me irritava.
Desliguei o telefone e toquei no ramal do Décio.
O Décio trabalhava comigo e te achava linda.
Toquei no ramal dele e contei que você estava indo ao meu encontro, e que se ele fizesse alguma graça contigo, ia apanhar de mim...
Enfim, desliguei o telefone e foi nessa hora que notei que estava chovendo.
Me preocupei em te ligar de novo pra saber se você tinha pego um guarda chuva.
Foi nesse momento que minha paz acabou...
Seu celular tocou e foi seu irmão quem o atendeu:

-Mãe?

-Oi Ni, chama a Tata.

-Mãe, mãe, a Tata sofreu um acidente.

-Cala a boca, Nicollas, chama sua irmã logo!

-Mãe, calma, é sério. Ela foi atropelada! Fala aqui com o Filão...

Foi quando o Filão me disse que voce estava desacordada, que o resgate já estava a caminho e que um carro havia invadido o ponto de ônibus.
Eu, do outro lado, mandava que ele ficasse falando com você mesmo que você não respondesse.
Mandei te dizer que eu já estava sabendo.
Pedi pra falar com o Nícollas de novo e pedi que fosse pra casa ficar com a Ivy.
Avisei seu pai, que estava dentro de um ônibus a caminho de casa.
Ele chegou a tempo de acompanhar seu resgate.
A essa altura, eu já estava no Hospital Regional esperando sua chegada, mas isso demorou horrores!
Só mais tarde entendi o porquê.
O SAMU chegou pra te socorrer com uma ambulância comum, mas precisaram chamar uma UTI móvel pra fazer sua remoção, devido à gravidade do seu estado...
Lá no hospital, tive uma pequena hemorragia devido ao nervosismo.
Me lembro das palavras do Nícollas mais tarde ao telefone:

- Mãe, só me liga se for pra dar notícia boa. Se não for, nem me ligue...

Aquilo me partiu o coração...
Depois de falarmos com o médico, de sermos informados sobre a cirurgia e das suas reais possibilidades, fui assinar os papéis da sua internação quando dei de cara com o Fer na recepção do hospital.
Ele estava lá, mas ninguém sabia.
Simplesmente ele foi até lá assim que soube, chorava sem parar e nos fez companhia a noite toda.
Eu, seu pai, o Filão, o Fer e o meu Martinho amado... Não sei se teria conseguido passar por aquela noite sem ele ao meu lado.
Um policial nos procurou lá no hospital. O mesmo policial que havia estado aqui na nossa rua acompanhando a ocorrência.
Ele foi conversar comigo bem na hora em que o médico nos deixou entrar na UTI.
Ele falava sobre o atropelador e os procedimentos a serem seguidos.
Eu só olhava pra ele e pra você, sem acreditar naquilo que estava acontecendo, e dizia que se você não saísse dali andando e falando, que eu mesma mataria o filho da puta.
Falei isso incontáveis vezes pra esse policial, que em momento algum tentou me demover da idéia.
Ele se limitou a te olhar, colocar uma das mãos no meu ombro e dizer:

-É foda!

Não há explicação pra esse sentimento de perda, bem como não existe descrição para a dor que sinto.
O tal do 'tempo' restaurou um pouco a dor da Ivy. Ela não tem mais aqueles momentos de choro desesperado.
Eu não alimento a dor dela.
Pra ela, falo coisas que não acredito, mas que sei que, à ela, consola: "a Tata virou anjinho", "a Tata cuida da gente lá do céu"...
Enfim... Todo aquele bla-bla-bla que se diz às crianças numa hora dessas.
Hora, essa, em que não há o que se dizer...
O tempo mantém, ainda, a dor do Nícollas guardada com ele. Ele deve sofrer demais, mas não externa isso e eu repeito. Sei que haverá hora pra esse peito chorar.
Seu pai tem sido parceiro, e sei que ele sufoca muito mais que a dor que sente, só pra poder me ajudar de alguma forma.
E eu, minha vida, cada dia que passa estou pior.
Se existe um jeito de viver bem sem você, ainda não descobri qual é...
Eu te amo tanto e tão desesperadamente que falo seu nome sem você estar aqui.
Estou sem você há 365 dias.
Dias que passei, ininterruptamente, pensando em você.
E pra sempre terás o meu amor, o meu coração e as minhas promessas cumpridas.
Todas elas.
Te amo, minha flor... Teria morrido em seu lugar se pudesse ter escolhido...
Você, e só você, tem a certeza disso.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SUA ÚLTIMA NOITE CONSCIENTE




Há exatamente um ano, eu ainda tinha você.
Dia 27 de fevereiro de 2011: foi o último domingo em que ficamos o dia todo juntas vendo televisão.
Foi o último em que te beijei e abracei estando você consciente disso.
Foi o dia em que mandei você pintar as unhas porque estavam horríveis e descascadas.
Foi o último dia em que você me perguntou: 'Mãe, o que tem pra comer?'
Este, foi o último dia em que vi meus três amores juntos.
O último dia em que a Ivy deitou contigo no sofá.
Foi o último dia em que o Nícollas teve uma melhor amiga.
Dia 27 de fevereiro de 2011 foi a véspera do resto da minha vida. Da minha vida sem você.
Tem sido muito dolorido...
O 'hoje' está sempre pior que o 'ontem', e eu não to conseguindo administrar.
Esta semana, depois de passar um ano inteiro sem trabalhar, tentei retornar.
Um emprego de meio período, mas só consegui ir por dois dias.
Não estou confortável em sair de casa, parece que meu peito vai explodir.
Aí, tenho taquicardia, minha pressão aumenta, choro... Não tá dando não!
Não sou tão forte quanto as pessoas pensam, nem tão corajosa como eu mesma considerava.
Sou, agora, um monte de dor e saudade que precisa levantar da cama, onde rolou a noite toda de um lado a outro, para cuidar dos seus irmãos.
Tem dia, filha, que não dá vontade não...
Pra ser bem sincera, nenhum dia dá vontade!
Liguei no fórum pra saber o andamento do seu processo, mas isso não merece nem comentários.
O negócio nesse país funciona assim: se você quiser acertar contas com alguém, jamais dê um tiro nessa pessoa. Simplesmente a atropele!
Aqui, não importa em quais condições esteja um motorista (sóbrio, bêbado, inabilitado, correndo ou mal intencionado), ele nunca será punido.
Hoje, quando for me deitar, vou sofrer pelo último beijo que te dei. Sofrer pelo beijo que nunca mais darei.
Você estava gripada em 27 de fevereiro de 2011, e eu te coloquei na cama assim:

"Boa noite, delicinha. Se precisar de alguma coisa, me chame. Como não vou acordar mesmo, pode chamar seu pai, porque ele sim tem sono leve..."

E nos beijamos, nos abraçamos e nos despedimos.
Nos despedimos sem saber que seria a última vez...



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

NOSSA ÚLTIMA BRIGA


18 de fevereiro de 2011: a data da nossa última briga.
Não só a última mas, também, a pior delas...
Me lembro como se fosse hoje!
Como se você tivesse vontade de me contar algo e te faltasse coragem, escreveu, num caderno, páginas e mais páginas sobre uma coisa da qual não quero me aprofundar aqui.
Não sei se de caso pensado, ou se por obra de um descuido, deixou o caderno em cima da minha cama antes de sair de casa.
Se o caderno estivesse entre suas coisas, jamais leria o que havia escrito ali.
Mas não estava!
Você não estava bem naquele dia, estava estranha. Ficou escrevendo por horas sentada em minha cama...
Quando terminou, saiu pra encontrar suas amigas e o caderno acabou ficando ali, em cima do meu travesseiro.
Não me passou pela cabeça ler o que você escreveu, tanto que peguei o caderno na mão, coloquei em outro lugar, depois o peguei novamente para colocar no seu quarto.
Foi quando um 'estalinho' aconteceu e decidi fazer aquilo que nunca havia feito: ler algo escrito por você sem o seu consentimento.
Me surpreendi negativamente em cada palavra que li.
Te odiei a cada linha.
Como você pôde ser tão estúpida?
Nessa época, andei tendo uns picos hipertensivos e você estava preocupada comigo.
Assim que terminei de ler tudo, te liguei imediatamente mandando voltar pra casa.
Só mandei voltar pra casa sozinha e desliguei o telefone sem maiores explicações.
Sabendo que eu havia passado parte da tarde em observação no pronto socorro, você voltaria sem demora.
Preocupada, me ligou 9 vezes em seguida.
Não atendi... Queria falar olhando na sua cara, não pelo telefone...
Quando você chegou, desesperada, achando que eu estava passando mal, me encontrou sentada aos pés da minha cama, com seu caderno nas mãos e ofegante como um bicho bravo.
A conversa que se seguiu foi uma conversa que jamais sonhei ter com você. Não com você!
Entre tantas coisas ditas e tantas lágrimas que choramos, disse que, naquele dia, naquele minuto, havia escorrido pelo ralo toda a confiança cega que eu tinha em você.
Foi bem tenso...
Dia seguinte já te amava de novo...rs
Nossas brigas nunca viraram a meia noite, nunca dormimos sem nos beijar, sem nos abraçar... Nunca!
No dia seguinte fomos ao oftalmologista, descobrimos que você estava míope e rimos da situação.
Você dizia que, há tempos, não enxergava tão bem como no momento do exame de vista quando a médica ajustou o grau das lentes!
Nós duas, na sala de espera da policlínica, irritando a Ivy até ela chorar porque nenhuma de nós a pegava no colo e não havia lugar pra ela sentar! Como ficou brava!
O calor daquele dia...
O pastel de queijo da Pastelândia do Extra...
A caminhada que fizemos até lá, mortinhas de fome!
E em cada carro que passava ao nosso lado na rua, tinha um engraçadinho que mexia com você.
Eu, claro, dizia que eles também eram míopes, porque a linda da história era eu...
Como a gente ria!
E quando, em algum lugar, alguém te ouvia me chamar de mãe, era sempre um espanto seguido de uma mesma conversa, gravada na ponta da minha língua:

- Vocês são mãe e filha?

- Ahãmmmm...

- Nossa, não parece... Parecem irmãs, você é tão nova!

- Eu sei, mas a mãe não sou eu. É ela!


E acho que, no fundo, é assim que me sinto.
Órfã.
Completa e absolutamente órfã de você.

Eu te amo!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

QUERO LEIS QUE SEJAM JUSTAS E CUMPRIDAS




OUTRAS VÍTIMAS: Fabiane e Leonardo

Fabiane (14), Bianca (15), Leonardo (8), Juliane (18) e Allan (19).
Exceto a Juliane, que morava em Manaus, todos os outros moravam em Sorocaba.
Todos, inclusive Juliane, foram vítimas de atropelamento.
Todos mortos.
Alguns amigos da Bianca eram, também, amigos do Allan.
Estes, em menos de um ano, choraram duas perdas.
Não conheço os pormenores de cada caso, mas sei que o único assassino detido até o momento foi o de Fabiane e Leonardo, pois parece que o sujeito já estava sendo procurado por outro crime.
Enfim, a impunidade impera.
As coisas não acontecem.
Os processos não andam.
Às mães, só resta aguardar pela justiça.
Justiça com as próprias mãos? Não, isso não se faz...
Acho que se eu pegasse o carro e passasse em cima do assassino da Bianca, seria eu condenada antes mesmo dele ser intimado para esclarecimentos sobre o caso da minha filha.
Vivemos num país de 'justiça injusta', de inversão de valores, de prioridades questionáveis.
Vivemos num país que condena à prisão quem rouba um pote de manteiga no supermercado, mas que agracia com a liberdade aquele que dirige em alta velocidade, atropela e mata um outro ser humano.
Posso cruzar com o assassino da minha filha pela cidade a qualquer momento.
A mãe do Allan, da Juliane e dos demais, também.
Sabe o que os atropeladores sentirão, caso nos reconheçam?
Apenas um desconforto por receio de que façamos um escândalo em lugar público.
E só.
Eles sabem que nada vai acontecer a eles, que a justiça é burra e que o Brasil é o país da bandidagem.
É o Brasil, dia após dia, gargalhando na cara da gente!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

FEVEREIRO




Ah Bi...
Amanhã começam as aulas.
Seria seu último ano no ensino médio...
Já estamos em fevereiro, e esse será um mes em que minha revolta se fará mais que presente.
Vou ver se consigo ir ao fórum essa semana. Preciso saber o andamento do processo.
Hoje sonhei com você.
Aliás, tenho sonhado bastante com você.
São sonhos confusos, onde você aparece rindo muito e dizendo que não morreu, mas que apenas fingiu e me enganou!
Sonhei duas vezes com teu assassino também, mas dele não quero falar.
No sonho de hoje, você estava gigante. Fisicamente gigante!
Acho que tinha mais de dois metros de altura!
Você ria muito e eu te perguntava como é que você havia crescido tanto enquanto esteve longe de mim...
Estava tão linda!
Eu acho tudo inaceitável.
A Fernandinha, antes de viajar de avião, me perguntou onde é que você dormia agora.
Disse a ela que você dormia numa nuvem bem fofinha, e ela te procurou quando estava 'pertinho do céu'.
Engraçado isso... Ela é tão pequena e não te esqueceu!
Fala de você com a consciência de que você não mais está aqui, mas com um carinho de quem te viu pela última vez há apenas alguns minutos.


"Que eu passe por mais esse mes sem ficar maluca, se é que o estado em que me encontro já não é de extrema maluquice..."